Economia

Angra: especialistas destacam custo e fatia pequena da matriz energética

Nenhum empreendimento em construção hoje no Brasil, em qualquer setor da infraestrutura, tem um custo que supere o de Angra 3. A usina nuclear, que teve suas obras iniciadas em 1984 pelo governo militar, é, de longe, a construção mais cara do País. Por outro lado, a planta paralisada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ), terá uma participação mínima, quando comparada à geração total de energia do País.

Hoje, o País tem apenas duas usinas nucleares em operação, Angra 1 e 2, que somam cerca de 1,9 gigawatts de potência. No dia em que Angra 3 entrar em operação, em 2026, vai somar 1,4 GW extra de geração por fissão nuclear, chegando a um total de 3,3 GW. Com essa potência reunida, as três usinas responderão por apenas 1,5% da capacidade total de entrega de energia do País. Se considerado o fato de que, anualmente, cada vez mais usinas de outras fontes entram em operação, essa fatia tende a encolher ainda mais.

Os militares defendem que o investimento em energia nuclear deve ser feito pelo País, porque apoia o desenvolvimento local de tecnologias, explora as jazidas nacionais de urânio e traz mais segurança ao abastecimento, já que as plantas nucleares entregam o volume total de energia que suas turbinas podem gerar no momento em que o setor elétrico quiser, diferentemente de outras fontes “intermitentes” – como hidrelétricas, eólicas e solar, que dependem das condições climáticas de chuva, vento e sol para proverem energia, sobre as quais não se tem controle total.

Custos

Entre especialistas do setor elétrico, há ainda menção ao alto custo da energia nuclear, ante outras fontes mais baratas, como eólica e hidrelétrica. Hoje, o Brasil soma 175 gigawatts (GW) de potência. Desse total, por exemplo, cerca de 51% estão ligados à geração hidrelétrica. Já as nucleares respondem por 1% da força total. A Eletronuclear afirma que, além de ter garantia plena de geração, Angra 3 passará a gerar o equivalente a 50% do consumo do Estado do Rio de Janeiro.

Para o coordenador geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, optar por uma usina nuclear é como abastecer com gasolina premium ou comprar um Rolls Royce. “É caro? É, mas não depende nem da chuva, nem do sol, nem do vento. É uma energia segura e limpa”, comparou ele, destacando que o Brasil já domina toda a cadeia produtiva de energia nuclear – reservas e enriquecimento de urânio – e que isso ajuda a desenvolver uma cadeia produtiva com alta densidade tecnológica no País.

De acordo com o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e professor titular da Coppe/UFRJ Maurício Tolmasquim, a energia nuclear custa até quatro vezes mais do que a energia solar ou eólica, e por isso tem mais chances de sucesso em países que subsidiam os projetos. Ele defende, porém, a continuidade do programa nuclear no Brasil. “Para não perder o conhecimento tecnológico acumulado desde as primeiras usinas (1970)”, ressaltou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por André Borges e Denise Luna

 

Estadão Conteúdo

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