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A varejista de materiais de construção Lojas Quero-Quero fechou o primeiro trimestre deste ano com lucro líquido de R$ 11,6 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 1,5 milhão do mesmo intervalo de 2020. A demanda alta por materiais para pequenas e médias reformas e a capacidade da empresa de manter lojas abertas mesmo com a segunda onda da pandemia aceleraram os resultados da empresa em praticamente todas as linhas.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) somou R$ 54,2 milhões no período, avanço de 92,6% na comparação anual. No critério ajustado, o indicador chegou a R$ 40,2 milhões, um salto de 161,9% em relação ao mesmo intervalo do ano passado. A margem Ebitda ajustado da companhia subiu 4,4 pontos percentuais no mesmo intervalo, para 9,2%.
As receitas da Quero-Quero subiram 39,1% no mesmo intervalo de comparação, chegando a R$ 539,8 milhões. Segundo a companhia, o resultado foi impulsionado pela alta de 51,3% nas atividades de varejo. Nos serviços financeiros e em cartões de crédito, as altas foram de 11,7% e de 0,6%, respectivamente.
Já as vendas em mesmas lojas (unidades abertas há mais de um ano) aceleraram 40,5% entre janeiro e fevereiro deste ano na comparação com o mesmo intervalo de 2020. Naquele período, o indicador ficou negativo em 6,4% devido ao impacto do fechamento das lojas físicas da Quero-Quero, em meio às medidas tomadas em todo o País para conter a disseminação da Covid-19.
Na maior parte das regiões em que a Quero-Quero opera, as lojas de materiais de construção foram designadas como serviço essencial. Por isso, a empresa conseguiu mantê-las abertas mesmo com a nova rodada de medidas de restrição para conter a pandemia durante o trimestre.
Em uma continuidade de seu plano de expansão, a varejista abriu nove lojas ao longo do trimestre, elevando o total a 404. As novas unidades abertas nos 12 meses anteriores impactaram nas despesas operacionais, que chegaram a R$ 138,8 milhões, alta de 23,4%.
A Quero-Quero destaca que a alta foi menor que a do lucro bruto, que avançou 38,3% no mesmo intervalo. Com isso, a alavancagem operacional da empresa não foi reduzida.
Avaliação
Os números da Lojas Quero-Quero no primeiro trimestre, que vieram acima do esperado pelo mercado em diferentes linhas, ainda foram resultado das restrições causadas pela covid-19, que desde o ano passado mantêm boa parte da população em casa – o que desperta o desejo de fazer pequenas reformas. A percepção é do CEO da varejista, Peter Furukawa, que afirma ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que os negócios em abril tiveram ritmo positivo e que o resto do ano deve ser ainda acelerado para a empresa.
“Em março, conseguimos continuar vendendo material de construção, mas não eletro e móveis. Não tivemos um desempenho tão bom nessas categorias, mas ainda assim vendemos, seja pelo WhatsApp ou celular”, diz ele. “Por isso, mesmo que março tenha vindo um pouco abaixo, o trimestre ficou acima do nosso budget (orçamento). E abril também veio super forte.”
Os números do trimestre chamam atenção, se comparados às perspectivas para outras varejistas que dependem do comércio presencial, como as de vestuário, mas o mercado já projetava um balanço robusto para a companhia. O Bank of America, por exemplo, esperava lucro de R$ 12 milhões e alta de 38,2% nas receitas da Quero-Quero. No Itaú BBA, a estimativa era de R$ 13 milhões em lucro e expansão de 31% nas receitas.
Segundo Furukawa, além do boom de pequenas reformas, também ajuda a presença geográfica da empresa. As mais de 400 lojas da Quero-Quero estão espalhadas pelo interior dos três Estados da Região Sul, onde o setor agrícola tem forte peso na economia local.
Como o campo virou uma “ilha de prosperidade” durante a pandemia, os clientes da empresa estão com dinheiro na mão para gastar. E construir imóveis é uma opção atrativa inclusive para investir, dado o baixo rendimento da poupança, que costumava ser o destino dos recursos desse público, segundo o executivo.
O único ponto em que a empresa não tem sido tão forte quanto poderia, segundo ele, é nos serviços financeiros. Graças à renda disponível, o cliente da Quero-Quero têm preferido pagar as compras à vista, e o crediário, que tem maior margem, perdeu participação nas vendas totais. “Quando a economia vai bem, o varejo vai bem, e os serviços financeiros, menos. Quando a economia vai um pouco pior, existe uma procura maior pelo financeiro e tem menos venda no varejo.”
Expansão
O plano de expansão da empresa, conta o CEO, é chegar ao Mato Grosso do Sul ainda neste ano, em três cidades diferentes. A expectativa é de abrir 70 lojas em 2021, ante 50 em 2020. Hoje, a varejista tem 406 unidades, e mais 76 contratos fechados para futuros endereços.
Furukawa comenta que, no interior de São Paulo, quase três dezenas de cidades da região do rio Paranapanema, na divisa com o Paraná, já foram visitadas pela empresa, que avalia por onde vai entrar no Estado mais rico do País. “Eu digo para todas as pessoas: se você deu certo no Rio Grande do Sul (sede da empresa), vai dar certo em São Paulo, porque não tem bairrismo.”
No entanto, além de abrir novas lojas, a Quero-Quero espera aumentar a chamada intensidade de vendas das que já existem – ou seja, vender mais no mesmo espaço. “Temos um espaço muito grande para crescer nas nossas próprias lojas”, completa.
Estoques
Apesar dos resultados resilientes no primeiro trimestre deste ano, a Lojas Quero-Quero continua sofrendo com falta de produtos, a chamada ruptura de estoque, em “praticamente todas” as categorias que vende. De acordo com Peter Furukawa, a empresa tem conseguido repassar os reajustes de preço aos clientes, mas encontrar produto tem sido uma tarefa árdua.
“O maior problema foi no terceiro trimestre do ano passado, mas no quarto, deu uma melhorada. Eu esperava que até março estivesse resolvido”, afirma ele, em entrevista ao Broadcast. “Melhorou um pouco, mas não resolveu até agora. E nossa expectativa é de que até 30 de junho não esteja totalmente equacionado.”
O executivo enxerga dois fatores para essa falta de produtos, os mesmos que atingem outros setores diante da desorganização que a Covid-19 provocou nas cadeias de produção. O primeiro é a paralisação de fábricas ou a redução de capacidade para evitar a disseminação do coronavírus. O segundo é a alta do dólar, que torna a exportação mais atraente do que a venda doméstica.
“Tem sido em todas as categorias, tanto eletro quanto material de construção e móveis. O aço já melhorou um pouco, mas teve momentos em que foi difícil (encontrar)”, explica ele. Louças sanitárias e revestimentos também estão mais escassos, segundo Furukawa.
O CEO da Quero-Quero afirma que a rede buscou empresas que não tivessem reduzido a produção, e que comprou “o máximo possível” de produtos para evitar problemas de estoque. E ele enxerga uma vantagem: com maior poder de barganha que o de suas maiores concorrentes, em geral empresas pequenas e que têm apenas uma loja, a varejista conseguiu acordos melhores.
A escala também permitiu que a Quero-Quero importasse aço no momento de maior falta do insumo no mercado interno, embora, segundo ele, esse movimento tenha sido pontual.
Furukawa comenta que os preços também têm aumentado de forma consistente – movimento visível no caso das siderúrgicas. Mas, segundo ele, até aqui, a empresa tem repassado os reajustes. “Temos repassado em reais os aumentos de todos os produtos”, explica.
As margens da Quero-Quero têm resistido à pressão: subiram 4,4 pontos percentuais, em um ano, no critério de margem Ebitda ajustado.
Por Matheus Piovesana
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