O aumento da busca por ativos de risco no exterior, estimulado por bons indicadores da economia dos Estados Unidos e o alívio nos juros longos americanos, ajudou o dólar a engatar nesta sexta-feira o quarto dia seguido de queda ante o real, mesmo com o impasse no orçamento de 2021 e os crescentes ruídos políticos. Nos últimos cinco dias, a moeda americana acumulou baixa de 1,6%, a maior das últimas quatro semanas, ajudada também pela entrada de fluxo externo para o Brasil, financeiro e de exportação.
Com isso, a valorização do dólar no ano caiu para 7,6%, bem abaixo que foi no pior momento de 2021 até agora, em meados de março, quando chegou a subir 12%. O alerta dos profissionais das mesas de câmbio é que um ponto de inflexão para o real será se o presidente da República, Jair Bolsonaro, vai sancionar ou não o orçamento na semana que vem, com ou sem vetos.
Em evento reservado nesta sexta do BTG Pactual, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mostrou otimismo e sinalizou que a questão do orçamento de 2021 será resolvida “sem rupturas”, além de declarar mais de uma vez que as reformas vão andar. Lira não cravou se Bolsonaro vai sancionar o texto sem vetos, mas disse esperar que isso aconteça.
As declarações otimistas de Lira ajudaram o dólar a bater mínimas, caindo para a casa dos R$ 5,57 durante o evento, na sede do BTG em São Paulo.
O economista-chefe da consultoria inglesa Capital Economics para mercados emergentes, William Jackson, está mais cético com o cenário para reformas no Brasil, em meio ao imbróglio do Orçamento. Qualquer que seja a solução na semana que vem para o impasse, pode ficar mais difícil e desafiador o avanço das reformas no Brasil, avalia ele. Se Jair Bolsonaro sancionar o texto como está, agrada os parlamentares, mas não o ministro da Economia Paulo Guedes, que já pediu o veto. Se vetar, seu apoio político no Congresso recua, mas a ação será recebida com alívio pelo ministro e os técnicos da Economia.
De qualquer modo, a questão do Orçamento evidencia a falta de compromisso fiscal que paira entre os parlamentares, ressalta Jackson. Por isso, o real vai seguir pressionado. A previsão da Capital Economics é de Selic a 4,75% ao final do ano, com dólar a R$ 5,75 e chegando a R$ 6,00 ao final de 2022.
O banco alemão Commerzbank também não espera que a melhora do real vista esta semana perdure muito tempo. Em meio a crescentes riscos fiscais no País, o real não deve se beneficiar no curto prazo da alta de juros pelo Banco Central e seguir com desempenho pior que seus pares emergentes ante o dólar, comentam as analistas para emergentes, Alexandra Bechtel e Melanie Fischinger, em relatório.
A piora da pandemia só ajuda a turbinar o temor de piora adicional das contas fiscais, avaliam as analistas do banco alemão. Além disso, há a preocupação de mais medidas populistas de Bolsonaro, especialmente com a volta do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo político. A previsão do Commerzbank é de dólar a R$ 5,60 ao final de junho, R$ 5,30 em dezembro e R$ 5,00 ao final de 2022. “Está se tornando cada vez mais improvável que as reformas e consolidação fiscal sejam implementadas antes das eleições de 2022”, comentam.
No fechamento dos negócios, o dólar à vista encerrou a sexta-feira cotado em R$ 5,5848, em baixa de 0,77%. O dólar futuro era negociado em queda de 0,52% às 17h40, em R$ 5,5925.
Por Altamiro Silva Junior
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