Bernie Madoff, o financista que se declarou culpado por orquestrar o maior esquema de pirâmide financeira da história (conhecido como esquema de Ponzi), morreu nesta quarta-feira, 14, numa prisão federal nos EUA, aos 82 anos. A causa da morte não foi informada.
No ano passado, advogados de Madoff apresentaram petição para tentar tirá-lo da prisão em meio à pandemia de covid-19, com o argumento de que ele sofria de doença renal em estágio avançado e de outros problemas médicos crônicos. O pedido foi negado. O jornal Washington Post informou, à época, que Madoff precisava de cuidados médicos 24 horas por dia e só se locomovia em cadeira de rodas.
Madoff, um operador renomado de Wall Street e fundador da Bernard L. Madoff Investment Securities LLC, cumpria pena por prejudicar milhares de clientes em fraudes que envolveram bilhões de dólares ao longo de décadas – na época em que foi preso, em 2008, o esquema era estimado em US$ 65 bilhões. Em 2009, foi sentenciado a uma pena de 150 anos de prisão.
A fraude pela qual foi condenado era feita da seguinte forma: a empresa de Madoff atraía os investidores oferecendo níveis de rentabilidade que chegavam a 1% ao mês, ou seja, mais de 10% de retorno no investimento por ano. Ele, então, utilizava o dinheiro desses novos investidores para pagar clientes antigos, que queriam resgatar os recursos aplicados.
Como funcionava o esquema de pirâmide de Madoff
O esquema funcionava porque os rendimentos não eram pagos aos investidores todo mês, apenas acompanhado por eles. Esse dinheiro só seria devolvido ao cliente quando este resgatasse seu investimento. O problema é que, diante de grande demanda por resgates em decorrência da crise financeira de 2008, o fundo de Madoff ficou sem dinheiro para pagar os investidores e a fraude veio à tona.
Suas vítimas questionaram por que as autoridades americanas não checaram antes o que estava acontecendo, mas a forma como Madoff operava foi decisiva para o seu sucesso. Descrito como “afável” e “de alto nível, mas de uma forma discreta”, o banqueiro se esforçou para manter sua aura de exclusividade.
Muitos de seus clientes mais ricos foram conquistados em conversas em clubes para abastados em Nova York ou na Flórida, e Madoff dava a eles uma sensação de pertencerem a um círculo privilegiado. Ele usou esses grandes nomes para atrair outros investidores, até que sua influência passou a se estender a grandes bancos, fundos hedge e até mesmo organizações beneficentes.
As operações de Madoff, de fato, eram bem obscuras. Além de sua empresa original, a Bernard L. Madoff Investment Securities, ele dirigia uma empresa de assessoria financeira totalmente separada – e é essa empresa que estava envolvida na fraude.
Antes do esquema ser descoberto, analistas financeiros levantaram dúvidas sobre as práticas de Madoff repetidamente, incluindo uma carta de 1999 para a SEC, a comissão de valores mobiliários americana, que acusava Madoff de estar realizando o esquema Ponzi. Mas nenhuma investigação foi conduzida até o colapso do esquema.
Vida de luxo
O dinheiro das fraudes fez com que Madoff e sua esposa, Ruth, desfrutassem de luxos como uma cobertura em Nova York, uma vila francesa e carros e iates caros, com um patrimônio líquido combinado de cerca de US$ 825 milhões. Mas ninguém da família de Madoff estava no tribunal de Manhattan quando o juiz distrital Denny Chin o condenou.
E nenhum familiar, amigo ou apoiador apresentou cartas atestando seu bom caráter ou ações em apoio ao pedido de clemência. “Eu acreditava, quando comecei esse problema, esse crime, que seria algo do qual eu seria capaz de me livrar, mas isso se tornou impossível”, disse Madoff durante o julgamento. “Quanto mais eu tentei, mais fundo eu me enterrei em um buraco.”
Madoff também se dirigiu às vítimas presentes no tribunal, dizendo: “Sinto muito. Sei que isso não ajuda”.
Poucos dias após a prisão de Madoff, começaram os esforços para tentar recuperar o dinheiro das pessoas que investiram com ele. Uma grande parte dessas somas veio de um acordo de US$ 7,2 bilhões com o espólio de Jeffry Picower, um antigo investidor de Madoff da Flórida.
À medida que sua saúde piorava, Madoff buscou uma “liberação compassiva” da prisão. Mas o juiz Chin rejeitou o pedido em junho passado, concordando com os promotores que as entrevistas feitas na prisão, em que Madoff minimizou seus crimes, mostraram que ele “nunca aceitou totalmente a responsabilidade” por eles.
Por Redação O Estado de S. Paulo
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