Mercados

Juros sobem com impasse no Orçamento, PEC e CPI da Covid

Os juros fecharam a terça-feira em alta, novamente descolados do desempenho dos demais ativos locais e se movendo a partir de dinâmica própria. Mais do que sentir a ausência de notícias positivas do lado fiscal, o mercado seguiu reagindo mal à solução estudada pelo governo para resolver o impasse do Orçamento, por meio de uma PEC para destravar programas de combate aos efeitos econômicos da covid-19 que prevê até R$ 18 bilhões em obras patrocinadas por parlamentares fora do teto de gastos. Adicionalmente, a CPI da Covid no Senado, que deve começar a tomar forma ainda nesta terça, eleva o desconforto, vista como mais um entrave para a evolução da agenda de reformas. O dia teve ainda as vendas do varejo de fevereiro acima do consenso e aumento da oferta de NTN-B pelo Tesouro no leilão.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027, que encerrou a sessão regular em
9,02%, não batia em 9% no fechamento desde 24/3/2020 (9,16%), ainda no começo da pandemia no Brasil. Na segunda-feira, o ajuste foi de 8,904%. O DI para janeiro de 2022 fechou em 4,78%, de 4,731% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 avançou de 8,286% para 8,39%.

O desenho da curva reflete o receio dos agentes em montar posições de risco na renda fixa diante de um cenário tão conturbado. “O tempo está passando e as soluções que se apresentam para o Orçamento não agradam. A curva vai ficando cada vez mais inclinada”, afirmou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

O diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, Felipe Salto, escreveu no Twitter ser “inacreditável o que estamos vendo na gestão fiscal e orçamentária”. Para ele, a PEC, se confirmada, será um equívoco em cima de outro. “Abre-se a caixa de pandora da contabilidade criativa. É preciso ter claro: risco altíssimo”, resumiu.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deve ler o requerimento para a abertura da CPI no período da tarde. Por ora, o mercado não vê na CPI riscos que desemboquem num impeachment de Bolsonaro, que dependeria muito mais da queda na sua popularidade para níveis abaixo de 20%, segundo especialistas. “O que a CPI afeta mais são as chances de avanço das reformas, além de aumentar o capital político do Congresso para aprovar o Orçamento como está”, explicou Rostagno.

A agenda da terça-feira trouxe as vendas do varejo, que no conceito ampliado subiram 4,1% em fevereiro ante janeiro, bem acima da mediana das estimativas (1,30%). Diante das expectativas cada dia mais pessimistas para a inflação, o Tesouro encontrou espaço para ampliar a oferta de NTN-B, para 4,3 milhões no leilão, tendo vendido em torno de 3,9 milhões e reforçando a percepção de que o papel tem sido a principal opção de financiamento para a dívida pública. Na semana passada, foram 2,750 milhões e na anterior, 1,8 milhão.

Por Denise Abarca

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Estadão Conteúdo

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