Preocupados com os rumos do Orçamento de 2021, após parecer da Câmara e do Senado sugerir aprovação sem veto das medidas, os investidores buscaram refúgio no dólar e a moeda fechou a sexta-feira, 9, em forte alta, de quase 2%, com o real novamente no topo de pior desempenho no mercado internacional, mesmo em dia de valorização generalizada da moeda americana. Na semana, porém, o dólar acabou acumulando queda de 0,71%, a segunda seguida de baixa, aqui influenciada mais pelo cenário externo, onde a divisa dos Estados Unidos mostrou enfraquecimento acompanhando o recuo nas taxas de retorno (“yields”) dos juros longos americanos, em meio a indicadores mistos da economia dos EUA e reforço na promessa do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de seguir firme com os estímulos monetários.
No fechamento, o dólar à vista encerrou em alta de 1,81%, a R$ 5,6749. O dólar futuro para maio subia 2,01% às 17h45, em R$ 5,6875.
A preocupação com o Orçamento ocorre por conta de duas “enormes falhas”, o corte de despesas obrigatórias e a inclusão de emendas parlamentares, comentam os analistas da consultoria inglesa TS Lombard, Elizabeth Johnson e Wilson Ferrarezi.
Aprovar o texto pode levar o presidente Jair Bolsonaro a cometer um crime de responsabilidade fiscal. Vetar medidas pode comprometer a capital político dele no Congresso, em um momento em que a popularidade de Bolsonaro recua com a piora da pandemia, avaliam em nota, prevendo que o imbróglio ainda vai se arrastar por mais algum tempo.
O reflexo do problema no Orçamento pode respingar na confiança dos investidores no curto prazo com o Brasil, especialmente em um momento de preocupação com medidas populistas de Bolsonaro, alerta a TS Lombard. Mais cedo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que todo mundo tem um pouco de razão e um pouco de erro na questão, que foi discutida conjuntamente. Ante o real, a moeda renovou máximas à tarde, batendo nos R$ 5,69 quando começou a ser divulgado o parecer do Orçamento.
Nos últimos dias, a perspectiva de que se chegasse a uma solução para a questão do Orçamento aliada a um cenário externo mais positivo – com o Fed sinalizando manutenção dos estímulos e visão de que a alta da inflação é transitória – ajudou o real a se valorizar, avalia a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico. “De todo modo, o risco fiscal segue elevado”, comenta em sua carta semanal.
No exterior, o pregão desta sexta-feira foi o contrário do observado nos últimos dias, com yields e dólar em alta. O movimento ganhou força após a divulgação do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos EUA, que mostrou inflação de 1% em março, ante expectativa dos analistas de aumento de 0,4%. “É o mais recente sinal de que a inflação está se aquecendo”, comentam os analistas do banco Wells Fargo.
Por Altamiro Silva Junior
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