Em dia no qual o humor externo seguiu em parte afetado pela retomada da pandemia na Europa, com extensão de lockdown em meio ao que se teme como terceira onda de covid-19, os investidores, mesmo com o dólar em alta na sessão, foram às compras na B3 em busca de ações com desconto, como as de Petrobras e bancos, na maioria muito depreciadas no ano.
Assim, o Ibovespa encontrou fôlego para retomar o nível de 113 mil pontos, chegando a flertar com o de 114 mil, entre mínima de 110.926,74 – menor nível intradia desde 10 de março – e máxima de 114.024,30 pontos nesta quinta-feira.
Ao fim, vindo de três perdas consecutivas acima de 1%, o índice mostrava alta de 1,50%, a 113.749,90 pontos, com giro a R$ 36,2 bilhões. Na semana, ainda cede 2,13%, colocando os ganhos do mês a 3,38% – no ano, perde 4,43%.
Apesar do ajuste negativo dos preços da commodity após salto de quase 6% no dia anterior, as ações da Petrobras, que acompanharam na quarta a perda de fôlego dos componentes do Ibovespa em direção ao fim do pregão, tiveram recuperação nesta quinta, com a PN em alta de 1,67% e a ON, de 1,91%, no fechamento. Destaque também para parte do setor de siderurgia (Gerdau PN +1,49%), para o segmento de bancos, que acumula perdas de até 22,5% no ano (BB ON), todo positivo nesta quinta (Bradesco PN +2,23%, Itaú PN +1,77%), e especialmente para o setor de utilities, com Eletrobras ON em alta de 4,96% no encerramento, reagindo bem à indicação do próximo presidente da empresa.
“Por mais que o processo seja questionado e visto negativamente pelo mercado, a indicação de um nome técnico e que possui um bom trânsito no meio político eleva o humor dos analistas para que possa ocorrer a capitalização da companhia (Eletrobras)”, aponta a Ativa Research. Na ponta do Ibovespa, Equatorial fechou nesta quinta-feira em alta de 6,95%, seguida por Pão de Açúcar (+5,25%) e Via Varejo (+5,24%). No lado oposto, Sul América cedeu 2,82%, CCR, 2,11%, e Minerva, 1,51%.
No cenário macro, o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado no período da manhã, mantém a perspectiva “hawkish” já expressada no comunicado sobre a decisão de política monetária da semana passada, e especialmente na ata do Copom. O dia também reservou novos comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, em geral bem recebidos pelo mercado.
“O presidente do BC disse que, embora a mudança (na Selic) tenha começado na última reunião do Copom, a taxa básica de juros não deixaria de ser estimulativa”, observa em nota Heloïse Sanchez, analista da Terra Investimentos. Por sua vez, “Guedes afirmou que além do auxílio emergencial, assim que o Orçamento for aprovado, irá antecipar diversos benefícios, na ordem de R$ 50 bilhões, para ajudar na ‘guerra’ contra a pandemia.”
“No começo da tarde, Campos Neto afirmou que o Copom não subirá a Selic a ponto de deixar de estimular a economia e deu a entender que o mercado está exagerando no ritmo de alta. A partir de agora, o Bacen e o mercado vão precisar ponderar aumento global da inflação – que, aparentemente, não irá dar trégua no curto prazo – e a perspectiva de crescimento para o Brasil, que segue em queda com o avanço da pandemia”, observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
A inflação, aqui e fora, permanece como um fator de preocupação para o mercado, especialmente pelo efeito que poderá causar à política monetária dos Estados Unidos, ainda muito afrouxada. “Teremos nos próximos meses um aumento relevante da inflação em 12 meses e, neste momento, houve uma reprecificação importante dos títulos do Tesouro americano, com elevação expressiva das taxas”, aponta a ASA Investments, chamando atenção para quadro não favorável aos emergentes, “sensíveis a juros mais elevados”. “E tais efeitos devem ser ainda mais importantes para o Brasil, que tem se mostrado inepto em lidar com a pandemia e com um viés claramente populista no campo fiscal”, acrescenta a ASA, antecipando “mais inflação, juros mais altos e menor crescimento” como corolário desta conjuntura.
Por Luís Eduardo Leal
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