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Empresas até poupam, mas caixa não deve dar conta com piora da pandemia

Num ano marcado pela pandemia da covid-19 e pela forte queda na atividade econômica, as empresas conseguiram preservar o caixa e elevar a poupança em R$ 540 bilhões, para R$ 2,3 trilhões. Esse colchão de liquidez, no entanto, pode não ser suficiente para garantir que todos tenham uma passagem tranquila por 2021. Com o recrudescimento da pandemia e o vencimento de obrigações prorrogadas, o ano será ainda mais desafiador que 2020.

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Sem novas medidas de socorro por parte do governo, é esperado um aumento da inadimplência e de pedidos de recuperação judicial, sobretudo entre os negócios menores, que mais empregam. “No primeiro semestre, com os efeitos do novo ciclo da pandemia, a expectativa é de estagnação ou de alguma redução do PIB (Produto Interno Bruto)”, diz o economista Carlos Antonio Rocca, coordenador do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (Cemec-Fipe).

Na avaliação dele, a demanda de consumo deve cair por causa da demora do novo auxílio emergencial e também pela forte elevação de preços de alimentos e aluguéis. Isso tende a pressionar o caixa das empresas. Segundo levantamento feito por Rocca, com 454 empresas de capital aberto e fechado, em muitos casos, a expansão da poupança das companhias em 2020 não está atrelada ao crescimento da atividade econômica, mas ao conjunto de medidas emergenciais adotadas pelo Banco Central e também pela criação de programas para micro, pequenas e médias empresas.

Rocca afirma que o aumento da liquidez e do crédito decorrentes dos pacotes do governo – ou do mercado de capitais – ajudou a mitigar os efeitos da crise sobre a situação financeira das empresas, num ano em que o PIB caiu 4,1%. Até julho do ano passado (último dado disponível), essas medidas permitiram a renegociação de quase R$ 1 trilhão, que venceria em 2020 e foi adiado para este ano. Além disso, houve um aumento de 23% no crédito para pessoa jurídica.

A situação seria tranquila se houvesse uma retomada forte e consistente da economia. Com o aumento da incerteza em relação à vacinação e à nova onda do coronavírus, muitas empresas estão mais endividadas e com o desempenho econômico fraco. Segundo o levantamento do Cemec-Fipe, a dívida corporativa cresceu acima da poupança feita no período, de R$ 3,7 trilhões para R$ 4,4 trilhões. Isso representa quase 60% do PIB – nível mais elevado da série do Cemec, iniciada em 2000.

O quadro é mais delicado nos negócios de menor porte, que não têm mais gordura para queimar. “A empresa menor já fez o que tinha de fazer: demitiu, cortou gastos, renegociou dívida e pegou mais crédito para se manter viável em 2020. Agora terá de pagar essas contas”, diz o presidente da Trevisan Escola de Negócios, VanDick Silveira. Segundo ele, nas grandes corporações, a situação é diferente. “Elas têm vários recursos, reserva de caixa, crédito pré-aprovado e ainda podem demitir mais para reduzir despesas. Ou seja, têm gordura para queimar.”

O diretor da área de reestruturação da Alvarez & Marsal, Eduardo Seixas, concorda com Silveira. Na avaliação dele, as grandes empresas conseguiram fazer uma reestruturação interna e devem conseguir passar bem pela crise. “Além das renegociações e postergações de pagamentos, elas enxugaram a estrutura. Alguns segmentos saíram mais fortalecidos.”

Inadimplência

Efeito das renegociações de empréstimos com os bancos, o índice de inadimplência é o menor em quase uma década. Mas o indicador também pode mudar com o novo quadro pandêmico. “As perspectivas para 2021 são mais desafiadoras do que em 2020”, diz Rocca. O que pode mudar o cenário são novas medidas para elevar a liquidez do mercado.

Seixas, da Alvarez & Marsal, não tem convicção de que o governo vá adotar medidas semelhantes – ou com o mesmo potencial financeiro – às do ano passado. Segundo ele, o País só não teve uma onda de recuperação judicial em 2020 por causa das repactuações feitas pelos bancos. Mas ele acredita que o problema só foi adiado.

O executivo lembra que acabou de entrar em vigência uma nova regra das recuperações judiciais, que inclui um período de 60 dias para negociação preventiva com os credores. Se não houver acordo, a empresa vai para a esfera judicial.

Ele destaca que março, abril e maio do ano passado foram os piores meses e muitos vencimentos foram adiados. “Isso vai estourar agora. Portanto, aquilo que evitamos em 2020 não vamos conseguir neste ano.” Seixas diz que a expectativa é de que o País tenha volume de recuperações semelhante ao de 2016, quando foram registrados 1.863 pedidos. No ano passado, esse número estava em 1.179. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Renée Pereira

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Estadão Conteúdo

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