Mercados

Dúvidas mundiais e locais pesam sobre o Ibovespa

Incertezas globais voltam a rondar os mercados e pressionam os ativos domésticos, com o dólar ante o real ganhando força, a maioria dos juros futuros subindo e o Ibovespa em queda. O índice, contudo, tentava se distanciar das mínimas vistas mais cedo (113.634,95 pontos), após a abertura em alta em Nova York, em meio à retomada da queda dos Treasuries de 10 anos nos EUA. A despeito disso, de acordo com o Julius Baer, a esperada recuperação dos EUA permitirá ao juro da T-note de 10 anos atingir o nível de 2% até o fim do ano, levando o rendimento do Bund alemão equivalente a ficar acima de zero.

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A cautela de investidores internacionais, especialmente nos Estados Unidos, reflete na B3, que hoje volta a fechar mais cedo, às 17 horas, com o fim do horário de verão nos EUA, e em dia de vencimento de opções sobre ações, o que tende a gerar volatilidade. Apesar da perspectiva de crescimento mundial, que ganhou reforço após a aprovação do pacote americano de trilhões de dólares na semana passada e depois de dados mais fortes do que o esperado da economia chinesa hoje, há prudência mais uma vez sobretudo quanto a um possível avanço acima do estimado da inflação global.

Mais cedo, o Ibovespa futuro até tentou firmar alta, mas sucumbiu à instabilidade vista em Nova York que, às 10h42, passava a testar queda, enquanto as bolsas europeias avançam, mas o petróleo recuava no mercado internacional.

Com a queda do petróleo, apesar dos indicadores chineses reforçando percepção de aumento da demanda, e o declínio de 1,28% do minério de ferro no porto chinês de Qingdao, o Ibovespa cai, com ações de empresas ligadas a commodities cedendo, com destaque para CSN ON (-1,21%), além de Petrobras PN caía 0,13% e ON perdia 0,18%. Na sexta-feira, o índice Bovespa fechou em baixa de 0,72%, aos 114.160,40 pontos.

Além da divulgação de dados de atividade no exterior esta semana e de inflação no Brasil, há decisões de política monetária por aqui, na Inglaterra, no Japão e nos Estados Unidos. Ruídos políticos também incomodam os investidores internos, diante de rumores de baixa no comando do Ministério da Saúde no momento em que a média móvel de mortos pelo novo coronavírus bateu recorde pela 16º vez e o processo de vacinação segue a passos lentos.

“A grande expectativa é a quarta-feira decisão de política monetária do Fed e do Copom no Brasil. O Fed apenas deve reiterar juro ainda baixo, mas temos de ver qual será a narrativa adotada ante a curva de juros no momento em que os títulos de longo prazo seguem avançando. Já no Brasil, tende a subir, mas não tão forte, em meio a uma pandemia e a restrições sociais. No entanto, deve ter um comunicado mais duro, e isso também será importante, assim como a comunicação do Fed”, avalia Thomas Giuberti, da Golden Investimentos.

Aliás, esta manhã, no Brasil, o Relatório de Mercado Focus do BC mostrou elevação da mediana das projeções para o IPCA 2021, de 3,98% para 4,60%, e de Selic para 4,5%, ante 4,0%. Já para o PIB passou de 3,26% para 3,23%.

A expectativa no mercado é que o Banco Central brasileiro retome o ciclo de alta da Selic, cuja decisão será na quarta-feira, restando saber se será aumento de 0,50 ponto ou de 0,75 ponto porcentual, cita em análise a clientes do economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira.

Mesmo após o IBC-Br de janeiro mostrar números melhores do que o esperado pelo mercado, o momento é de cautela, como avaliam economistas aos repórteres do Gregory Prudenciano e Thaís Barcellos do Broadcast. O economista Carlos Lopes, do BV, disse que a projeção do banco para o PIB em 2021 deve passar de alta de 4% a 3,5%. Segundo ele, “o que manda na economia é a pandemia.”

Já a Austin Rating mantém a estimativa de crescimento do PIB em 3,30% para este ano, mas adianta que a projeção tem viés de baixa. Para o economista-chefe Alex Agostini, da agência, a elevação de 1,04% no IBC-Br de janeiro ante dezembro, melhor do que o mercado esperava, pode ser interpretado como “um ponto fora da curva”, reflexo de um momento em que havia certa euforia com o início da vacinação contra a covid-19.

De todo modo, os indicadores chineses reforçando expansão da retomada econômica do país tentam segurar um pouco a queda do Ibovespa. “A China favorece a busca por risco, assim como a continuidade de revisão para melhor de crescimento mundial. A leitura de crescimento tem prevalecido sobre a volta da preocupação com inflação e juros. No entanto, o ambiente de aversão a risco continua”, avalia em nota o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.

Além de ficarem no centro das atenção por conta do vencimento de opções na B3, as ações da Vale e da Petrobras chamam a atenção devido a notícias específicas de cada empresa. Enquanto a mineradora prepara recompra de papéis perpétuos sem contrapartida e os debenturistas reclamam, a petrolífera voltou a reforçar que os membros da diretoria e o presidente Roberto Castello Branco estão comprometidos a cumprir seus mandatos, que se encerram no dia 20 deste mês.

Já a Eletrobras divulga balanço do quarto trimestre de 2020, que sai após o fechamento do mercado, e que tende a vir “poluído”, como informa o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Além disso, investidores avaliam especulações de que o presidente Jair Bolsonaro pode esquecer da MP de privatização da empresa no congresso como reação à volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário eleitoral.

Às 10h48, os papéis da Eletrobras subiam 2,26% (ON) EE 1,51% (PNB). O Ibovespa caía 0,29%, aos 113.832,34 pontos.

Por Maria Regina Silva

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Estadão Conteúdo

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