Em dia de noticiário intenso no mercado doméstico externo, o dólar firmou queda ante o real logo pela manhã, momento em que o Banco Central fez sua primeira intervenção no mercado, vendendo US$ 1 bilhão em swap cambial. No exterior, a moeda americana teve dia de baixa generalizada, após dados da inflação mostrarem preços comportados nos Estados Unidos e, no final do dia, a aprovação do pacote fiscal de Joe Biden.
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Causou estranheza no mercado um segundo leilão de dólares do BC no início da tarde, de US$ 405 milhões, já com a divisa dos EUA em queda firme. Para profissionais das mesas de câmbio, a oferta pode ser para dar liquidez a estrangeiros deixando o país ou o temor do BC de mais pressão na inflação do dólar alto, que tem levado uma série de bancos, como Barclays, Itaú e JPMorgan, a revisar suas projeções para o IPCA e para a taxa básica de juros. Com isso, o dólar fechou na maior queda em dois meses. As mesas de operação ficaram ainda monitorando de perto a votação da PEC Emergencial na Câmara. No fechamento, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 2,50%, em R$ 5,6526. No mercado futuro, o dólar para abril caiu 2,21%, a R$ 5,6780.
As análise negativas sobre o Brasil e o real têm se proliferado nos últimos dias. Os estrategistas do banco suíço UBS resolveram encerrar suas apostas compradas na divisa brasileira, ou seja, que ganham com sua valorização. Prevendo que a volatilidade vai seguir muito alta no câmbio, em meio a piora da pandemia e atrasos na vacinação, além do risco de mais medidas populistas por Jair Bolsonaro, o banco prefere ficar de lado no curto prazo, observando os movimentos. O também suíço Julius Baer mostrou preocupação com o populismo e o avanço de reformas após a decisão de anular as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso, neste momento, prefere não tomar posições em renda fixa ou na bolsa brasileira, avaliando outras regiões como melhores opções por ora.
Nesse sentido, um diretor de um banco estrangeiro afirma que, ao atuar hoje vendendo dólares à vista, o BC pode estar querendo dar fluxo para saída de capital do País. Este mês, até o dia 5, o fluxo financeiro é negativo em US$ 1,384 bilhão, segundo dados de hoje do BC. O fluxo cambial total está no vermelho em US$ 436 milhões no mesmo período. “De fato a atuação do BC hoje foi atípica”, afirma um diretor de Tesouraria.
Na Câmara, após forte atuação do governo, o plenário rejeitou um destaque de autoria do PT que derrubaria todos os gatilhos de congelamento de salários de servidores e outras despesas do governo. “O momento é muito delicado, um passo em falso pode custar muito mais caro”, afirma o chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna, ex-diretor do BC, ao falar da PEC Emergencial. “O nível de ruído é excessivo. O desconforto manifestado por agentes econômicos em geral e participantes do mercado financeiro em particular é muito elevado”, completa, citando ainda o temor de nova guinada populista de Bolsonaro.
Por Altamiro Silva Junior
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