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Entrevista: Entre otimismo e pessimismo, gestor prega diversificação nos investimentos

Diversificação entre ações, renda fixa e fundos para dormir tranquilo. Esta é a melhor estratégia de investimentos para encarar o cenário frágil e imprevisível da economia e dos mercados, na visão de Flávio Duarte, sócio gestor de portfólio da Pandhora Investimentos, gestora de fundos quantitativos que lançou seu primeiro fundo em 2016 e hoje administra R$ 500 milhões.

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“Vamos passar por 2021, 2022 e ao longo dos anos por momentos de muito otimismo e momentos de muito pessimismo. É muito difícil antecipar, então a melhor forma de investirmos é realmente tendo um portfólio diversificado”, disse Duarte em entrevista ao Mercado News. A favor disso, a estratégia quantitativa – que utiliza análise de dados históricos por meio de algoritmos – tem a vantagem de ser pouco correlacionada com outros fundos do mercado, além de eliminar o envolvimento emocional na tomada de decisão de investimento.

Isso vale tanto para o investidor iniciante quanto para o gestor experiente. “Há estudos acadêmicos que relatam esses vieses e, mesmo tendo conhecimento, a gente cai neles todos os dias. Precisamos estar sempre atentos para não deixar a ansiedade tomar conta desse processo de decisão de investimentos”, contou o sócio gestor da Pandhora Investimentos.

A ansiedade pode aflorar a qualquer momento, inclusive diante das disparadas recentes das ações de startups de tecnologia na B3. “A primeira coisa que escutamos investidores falando quando uma ação se valoriza muito é que elas estão caras: subiu muito e não vale a pena esse preço. Mas uma característica importante dessas empresas de tecnologia é que elas têm uma estrutura relativamente controlada para um crescimento bem ilimitado”, avalia Duarte.

Confira, abaixo, a conversa com Flávio Duarte:

Quais as vantagens de investir em fundos quantitativos? 

Uma característica muito legal é que a gente consegue criar simulações em vários períodos de tempo de como determinada estratégia de investimento teria se comportado. Então, a gente sempre consegue fazer várias simulações, sempre temos muitas perguntas a serem respondidas sobre nossos modelos e a gente consegue extrair isso com base no histórico passado. Temos backtest com mais de 20 anos de histórico, então conseguimos fazer bastante análise com isso.

Outra vantagem muito importante é que no processo de tomada de decisão de investimento, como a ordem final é do modelo, não tem uma questão presente em todo mundo: a questão comportamental. Se eu acordei um dia com dor de cabeça, minha estratégia não vai ser afetada por estar debilitado para tomar decisão. Então a gente fica muito tranquilo em relação ao portfólio do fundo e ao que a gente entrega para os clientes.

Outra vantagem importante é que essas estratégias sistemáticas nem sempre possuem o mesmo posicionamento que os outros fundos do mercado. Várias vezes o mercado está pessimista e nossos fundos estão posicionados para ser otimista, e vice-e-versa. Isso acaba gerando um produto com correlação mais baixa, comparando com outros fundos do mercado. Ao adicionar um fundo na carteira do cliente que tem baixa correlação, esse fundo aumenta o retorno da carteira como um todo e diminui a volatilidade. Então só tem benefício. 

Escutamos muito os investidores falarem de venda a descoberto, IPOs, GameStop em vez de falar sobre a parte comportamental de tomada de decisão de investimento. Qual a sua visão sobre isso?

Isso está sempre muito presente até mesmo no gestor mais experiente. O gestor pode ser o mais experiente no mercado, mas se ele decide tomar uma decisão de investimento e esse investimento parece que não está fazendo sentido, ele perde dinheiro e isso vai afetar a forma como ele pensa. Há estudos acadêmicos que relatam esses vieses e, mesmo tendo conhecimento, a gente cai neles todos os dias. Precisamos estar sempre atentos para não deixar a ansiedade tomar conta desse processo de decisão de investimentos. Vemos ações subindo todos os dias e achamos que é a última oportunidade da vida, aí compramos e isso acaba sendo prejudicial ao cliente.

Aqui em nossos fundos, como temos um poder computacional muito grande para processar informações e elaborar estratégias de investimentos, tentamos colocar o máximo de dados possíveis de acordo com a característica do modelo. Quanto mais informação, mais teste do passado, mais a gente consegue minimizar esses efeitos em nosso portfólio.

O episódio GameStop mostrou que o trader de carne e osso está mais sofisticado?

Em episódios como esse da GameStop sempre vai ter gente que vai ganhar muito dinheiro e gente que vai perder muito dinheiro. Então tem uma questão de sorte envolvida no processo. Por sermos sistemáticos, acreditamos muito – por estudos publicados e por nossas análises – que é melhor para o cliente ter uma carteira balanceada e diversificada do que ficar tentando dar grandes acertos para aumentar o patrimônio.

Às vezes, os investidores pessoa física podem acertar essas ações, mas há estudos que comprovam que depois de começar a acertar, começa a aumentar o tamanho e aí pode errar. Daí todo o ganho que teve vai por água abaixo, é difícil recuperar. Entendemos que antes de tentar ganhar dinheiro com trading, é importante ter um portfólio balanceado. Pelo que vemos em estudos publicados, essa questão do trading, de esperar para comprar na queda, mesmo que a pessoa consiga, representa uma parte muito pequena do seu ganho ao longo do tempo. Então, a longo prazo, o portfólio diversificado é mais responsável pelo acúmulo de patrimônio.

E como você está vendo o mercado neste momento?

Por sermos uma gestora quantitativa, é muito legal que não temos uma visão única da casa sobre o assunto. Isso não vai afetar o portfólio do fundo. O que a gente tem visto é o mercado muito otimista com a perspectiva da vacina, um possível avanço das agendas do governo. Mas se tivermos algum contratempo com as vacinas ou se a agenda do governo não avançar tanto, todo esse otimismo e risco que as pessoas estão tomando podem ser traduzidos em prejuízo.

Vamos passar por 2021, 2022 e ao longo dos anos por momentos de muito otimismo e momentos de muito pessimismo. É muito difícil antecipar, então a melhor forma de investirmos nesse momento é realmente tendo um portfólio diversificado, com ações, renda fixa, fundos multimercados, investimento no exterior. Dessa forma, o investidor dorme mais tranquilo.

Hoje o que mais te anima na Bolsa brasileira? 

O que me anima na Bolsa hoje é o que me anima todos os anos e vai continuar me animando daqui para frente: a gente sabe que investir em ações tem um retorno esperado positivo no futuro. Quando estou comprando ações hoje, estou comprando uma empresa na expectativa de que os lucros dela aumentem. Em um país normal, e digo país normal porque todos os anos temos uma surpresa no Brasil – e é aí que entra a questão da gestão diferenciada de fundos –, sabemos que ações têm o retorno esperado positivo, você é recompensado por tirar o seu dinheiro seguro da poupança e investir em uma empresa na Bolsa. Quando a taxa de juros era de 14% ao ano, esse movimento não fazia tanto sentido, mas agora que ela é 2% ao ano, mesmo, eventualmente, 2,5% ao ano, é um nível muito baixo de juros. As perspectivas de as empresas continuarem crescendo, continuarem tendo lucros e retornos positivos é muito interessante. Ao mesmo tempo, temos o desenvolvimento do nosso País, o crescimento do PIB, melhoria das empresas, então enquanto tivermos perspectivas boas de crescimento da economia, a Bolsa vai continuar sendo um investimento atrativo.

Falando de setores especificamente, a gente não tem predileção, tentamos elaborar as nossas estratégias explorando características específicas que as ações apresentam. Isso é chamado de ‘fatores’, o fator que algumas ações apresentam. Gostamos de ter empresas baratas no nosso portfólio, esse é um fator de valor. Mas se a empresa está barata é por algum motivo: pode ser por conta do lucro caindo nos últimos anos, pode ser uma estatal que o mercado está com medo de intervenção do governo ou por alguma transformação. Há um risco envolvido por investir nessas empresas, todos esses temores do mercado podem se concretizar e você não vai ver esse retorno.

Uma forma de contrabalançar esse portfólio diante desse risco das empresas é tendo um portfólio que a gente chama de ‘momento’, em que se compra ações que valorizam mais em relação às outras – no último ano, por exemplo. Isso garante que, em um lado do portfólio, tenha ações baratas e, do outro lado, ações que subiram, e que por conta de irracionalidade do investidor, vão continuar subindo. E a gente se aproveita do movimento. Elas sobem muito e podem cair, eventualmente, sim. A nossa forma de se proteger dessas quedas é tendo o portfólio diversificado e o rebalanceamento constante do portfólio. Por exemplo, eu montei uma carteira de valores, mas não necessariamente as empresas que estão baratas hoje serão as que continuarão baratas mês que vem, então mês que vem eu vou reavaliar esses investimentos. A troca periódica de investimentos de ações, o chamado rebalanceamento, ajuda a ter o portfólio livre desses riscos de ter uma ação que pode cair muito.

E o que tira o seu sono na Bolsa brasileira?

Eu acho que nunca pensei sobre isso. O que tira o sono, mesmo a gente sendo uma gestora sistemática e não tendo predileção em papéis e setor, é o risco de o País dar errado. O País dando errado, as coisas não indo bem, com certeza a Bolsa será afetada. De novo, esses fatores diversificados e esse processo de rebalanceamento tentarão se beneficiar das empresas que estão indo “menos pior”, por exemplo, em um eventual cenário de o País não ir tão bem. Mas não tem nada que a gente possa fazer nesse cenário. Se o Brasil der certo, a gente foi recompensado pelo risco, então estamos correndo o risco de investir em ações. 

Como tem visto a disparada de ações de techs brasileiras. Os modelos de valuation sugerem múltiplos incrivelmente altos, mas a alta prossegue. Qual é a sua visão? 

A primeira coisa que escutamos investidores falando quando uma ação se valoriza muito é que elas estão caras: subiu muito e não vale a pena esse preço. Mas uma característica importante dessas empresas de tecnologia é que elas têm uma estrutura relativamente controlada para um crescimento bem ilimitado. A Neogrid (NGRD3), por exemplo, pode adicionar vários campos na base dela sem que precise contratar muitos funcionários ou montar um novo escritório. Ainda mais agora com toda a transformação que passamos com o coronavírus, as pessoas trabalhando de casa, isso dá uma grande flexibilidade para a empresa.

Se você pegar o exemplo de uma indústria têxtil, se ela quiser produzir mais e vender mais, vai precisar construir um parque fabril, contratar funcionários, então envolve um investimento muito alto. E as empresas de tecnologia não precisam disso para vender mais aos clientes. Um fator interessante que acontece é que, às vezes, essas empresas acabam tendo menos concorrência, então o mercado acaba premiando essas ações pela vantagem competitiva superior aos concorrentes. Já vimos essa história de empresas subindo bastante várias vezes, mas se no longo prazo essa empresa consegue entregar aos acionistas um crescimento de receita e de lucros, esse valor faz sentido no futuro.

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Bianca Antunes

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