A pouco mais de dez dias da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, o Solidariedade declarou nesta segunda-feira, 18, apoio à candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP). O partido chegou a flertar com o candidato Arthur Lira (Progressistas-AL), principal oponente do emedebista, mas alegou que desistiu do movimento por causa da proximidade do líder do Centrão com o Palácio do Planalto.
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Em reunião na sede do Solidariedade em São Paulo, com a presença de Baleia e líderes de PT, PV, PSL e Cidadania, a avaliação foi a de que o desgaste do governo federal provocado pela condução da pandemia do novo coronavírus deve ajudar a atrair mais parlamentares para o bloco do emedebista, que tem aval do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Acredito que todo esse bate cabeça (na questão da pandemia e da vacinação) pode ajudar no fortalecimento da nossa candidatura. Os parlamentares vão fazer essa análise, porque uma Câmara independente vai dar condições de os parlamentares exercerem o seu mandato, de se colocarem quando o governo erra de maneira clara e objetiva”, afirmou Baleia. Presidente do Solidariedade, o deputado Paulinho da Força disse que a legenda se afastou de Lira por causa da “aproximação com o governo Bolsonaro”. “Isso pesou bastante dentro do partido.”
Candidato do Planalto, Lira buscou se posicionar em meio à crise sanitária e cobrou ontem o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por soluções para a vacinação contra a covid-19. O líder do Centrão, no entanto, evitou comentar a postura do presidente Jair Bolsonaro, que entrou em uma disputa com o governador João Doria (PSDB) na questão dos imunizantes.
Ideologia
“Qualquer vacina, seja de onde for, que tiver homologação ou certificação da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) deve ser usada e comprada independentemente de ideologia ou de pensamentos”, declarou Lira. “Se houver críticas ao ministro Pazuello, nós vamos fazê-lo, como fiz aqui, tem de apresentar soluções de logística, tem de cuidar da temática de não deixar faltar insumos nem vacinas para o Brasil. Tem de tratar junto do Ministério das Relações Exteriores, no tratamento com Índia e China. A população acredita no seu parlamentar para solucionar”, disse o candidato do Progressistas durante entrevista concedida pela manhã em um hotel de Brasília.
Lira, porém, negou que a cobrança tenha o objetivo de pressionar pela saída do general Pazuello do ministério. Nos bastidores, o Centrão tenta reaver o comando da pasta, que tem um dos maiores orçamentos da Esplanada. Um dos nomes que sempre aparecem como cotado para assumir o lugar de Pazuello é o do atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR).
Apoios
Baleia Rossi minimizou a “erosão” de votos em partidos que apoiam sua candidatura. Levantamento do Estadão mostrou que siglas como DEM e PSDB têm parlamentares que, apesar do posicionamento da legenda, declararam votos em Lira. O PSL é o partido com a divisão mais evidente. Formalmente, o partido está com Baleia Rossi, mas a maioria da bancada manifestou apoio ao adversário.
“É natural que, com a pressão que o governo está fazendo em cima dos parlamentares, mesmo parlamentares que prefiram uma Câmara independente sinalizem para o outro lado, para evitar represálias”, disse o emedebista.
Votação presencial
Após a polêmica criada com a possibilidade de uma votação virtual para definir a nova presidência da Câmara, o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que a escolha será feita apenas de forma presencial, no dia 1.º de fevereiro. A decisão foi tomada pela Mesa Diretora – formada por sete integrantes – com voto contrário de Maia.
Segundo o presidente da Câmara, a eleição poderá envolver a circulação de até 3 mil pessoas em um único dia no Congresso. “Temos de mobilizar mais de 2 mil funcionários, tem a imprensa, de alguma forma é uma circulação mínima de 3 mil pessoas no dia”, disse. A eleição no Senado será realizada na mesma data.
Maia estudava a possibilidade de voto virtual ao menos para os deputados do grupo de risco, mas o bloco do candidato Arthur Lira (Progressistas-AL), líder do Centrão, era contra. O Progressistas já havia questionado oficialmente a Câmara, e levantou suspeitas sobre a integridade da votação, citando até mesmo a possibilidade de ataques de hackers.
A Mesa Diretora da Câmara foi convocada para deliberar e definir o formato da eleição. “Se decidiu por maioria, contra meu voto, não haver flexibilidade na votação presencial”, disse Maia. Ele era a favor da flexibilização para os idosos e para parlamentares com comorbidades. O placar ficou em 4 a 3 pela votação presencial.
Fux
De acordo com Maia, em razão dessa decisão, todos os 513 deputados e um total de pelo menos 3 mil pessoas terão de comparecer à Câmara no dia da votação. Ele lembrou a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, em que vários convidados, incluindo ele próprio, se contaminaram com a covid-19. “Vamos trazer parlamentares de 27 Estados em um momento de crescimento da pandemia”, alegou.
“Eu achei que uma parte lá (Mesa) ia pedir voto impresso, contaminada pelo governo”, ironizou Maia, em referência à defesa do presidente Jair Bolsonaro pela mudança no modelo adotado pelo País em votações gerais. Na Câmara, o voto é feito também de forma eletrônica, por meio de computadores instalados no plenário da Casa.
Na reunião desta segunda-feira, a Mesa Diretora adiou a discussão sobre a validade das assinaturas de deputados suspensos do PSL, o que pode tirar o partido do bloco de Baleia Rossi (MDB-SP) e colocar no de Lira. A sigla é a segunda maior bancada da Casa, com 52 parlamentares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Tulio Kruse, Camila Turtelli, Daniel Weterman e Anne Warth
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