A alta do dólar e a busca pelo fortalecimento do caixa levaram a dívida das empresas brasileiras a um nível recorde este ano. De acordo com o Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec/Fipe), a dívida corporativa total chegou a R$ 4,3 trilhões, o equivalente a 60,5% do Produto Interno Bruto (PIB), com base em dados do fim de agosto. Em dezembro de 2019, esse índice estava em 51,2% do PIB.
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O estudo leva em conta apenas empresas não financeiras. Em 2000, início do levantamento, o coeficiente da dívida das empresas em relação ao PIB foi de 34,9%. Mesmo em 2015, ano em que o País passou por profunda crise, tanto por conta da recessão quanto pelos efeitos da Operação Lava Jato, e em que o dólar subiu 48% em relação ao real, o índice ficou em patamar mais baixo do que o deste ano – 57,7%.
A maior parte da alta em 2020 (70% do total) tem como motivo a variação cambial. Segundo o coordenador do Cemec/Fipe, Carlos Antonio Rocca, o maior problema neste caso é que cerca de 25% das empresas analisadas não têm proteção contra essa alta (hedge, no jargão financeiro). Podem ter, portanto, mais dificuldades.
Outra parte da explicação para o endividamento recorde foi o maior volume de dinheiro que as empresas pegaram emprestado para reforçar o caixa e fazer frente à crise provocada pela covid-19. Nesse caso, o risco é a economia não se recuperar rapidamente e as empresas não conseguirem retomar suas atividades de forma consistente.
“A expectativa para o próximo ano é de um cenário crítico. As instituições que não conseguirem fazer a rolagem da dívida precisarão buscar alternativas para fazer a adequação desses números, que pode ser via calote ou pedido de recuperação judicial”, diz o presidente da Corporate Consulting, Luís Alberto de Paiva.
Somado a isso, as empresas que postergaram os pagamentos de suas dívidas com os bancos, na esteira das medidas lançadas para mitigar os efeitos da crise, estão tendo de retomar agora os pagamentos das parcelas.
Relação
Levantamento da empresa de informações financeira Economática mostra que, dentre as empresas de capital aberto, a Petrobrás foi a que viu sua dívida crescer mais neste ano. No acumulado de janeiro a setembro, o endividamento bruto subiu quase 28% em relação a dezembro de 2019, para cerca de R$ 449 bilhões. Na sequência, estão Embraer, Vale, JBS, Braskem, Suzano e Azul.
No caso da Petrobrás, a alta se deu basicamente por conta do dólar, já que grande parte de seu endividamento é na moeda americana. Fora isso, em maio a empresa fez uma captação no exterior de R$ 17 bilhões, mas deu em pré-pagamento empréstimos mais caros. Em dólar, contudo, a dívida bruta da Petrobrás caiu. No fim de setembro, estava em US$ 66 bilhões, US$ 9 bilhões a menos do que no fim de dezembro. A meta da petroleira é fazer esse número chegar a US$ 60 bilhões.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Fernanda Guimarães
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