Durou menos de cinco anos a história da fábrica de automóveis da Mercedes-Benz em Iracemápolis, no interior de São Paulo. A empresa anunciou nesta quinta, 17, que a unidade, inaugurada em março de 2016, encerrará a produção. Segundo a Mercedes, ainda está sendo estudada a melhor solução para o destino da unidade e seus 370 funcionários, que não serão demitidos imediatamente. Uma das possibilidades é a abertura de um programa de demissões voluntárias.
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Segundo a Mercedes-Benz, a decisão de parar a produção em Iracemápolis veio de uma soma de fatores. Mas o principal deles, claro, foi o econômico. A crise pela qual o Brasil passou nos últimos anos se agravou com a pandemia. “Isso causou uma queda significativa nas vendas de automóveis premium”, disse, em comunicado, Jörg Burzer, membro do conselho de administração da Mercedes-Benz AG.
A fábrica, que recebeu mais de R$ 600 milhões em investimentos, era responsável por produzir o utilitário esportivo (SUV) compacto GLA – cuja fabricação já havia sido paralisada em setembro – e o sedã médio Classe C, que teve a produção encerrada na quarta-feira, 16.
A meta inicial era fabricar até 20 mil carros por ano. Atualmente, porém, estava longe desse objetivo: de acordo com dados da Fenabrave, federação que reúne as concessionárias, entre janeiro e novembro foram emplacadas 1.206 unidades do GLA e 1.785 do Classe C no País.
Sinal amarelo
Essa não será a primeira experiência frustrada de uma fábrica da Mercedes no Brasil. No fim da década de 1990, foi inaugurada a unidade de Juiz de Fora (MG), voltada para a produção do compacto Classe A. Mas o carro nunca teve o desempenho de vendas no Brasil que dele se esperava – até porque a desvalorização cambial que o País atravessou naquele período acabou tornando o veículo caro demais para os padrões nacionais.
Com o fim da produção do Classe A, a unidade passou a fabricar o sedã médio Classe C, voltado para o mercado externo, que durou até 2010. Depois, com algumas adaptações, produziu caminhões até o ano passado. Atualmente, fabrica cabines para a linha de caminhões pesados de São Bernardo do Campo (SP).
2ª maior empregador de Iracemápolis
O fechamento da fábrica da Mercedes-Benz do Brasil pegou de surpresa autoridades e moradores da pequena Iracemápolis, no interior de São Paulo. A indústria é a segunda maior empregadora da cidade de 24.235 habitantes, na região de Piracicaba.
O presidente da Câmara, William Ricardo Mantz (Podemos), disse que os vereadores vão discutir a saída da empresa. “Ninguém esperava isso, porque foi uma luta muito grande para a Mercedes vir para cá. Iracemápolis tomou a frente até do governo do Estado em algumas situações.”
Segundo ele, houve uma grande mobilização na cidade para conseguir a fábrica. Conforme o parlamentar, neste ano, apesar da pandemia, a contribuição da empresa para a arrecadação do município foi de mais de R$ 12 milhões. Em outros anos, chegou a R$ 19 milhões, em um orçamento que, no próximo ano, será de R$ 91 milhões.
A prefeitura informou, em nota, que o principal impacto para o exercício de 2021 será uma redução de 5% na arrecadação do Imposto Sobre Serviços. Em 2020, mesmo com a pandemia de covid-19, a arrecadação de ISS foi de R$ 6,2 milhões e a Mercedes respondeu por 8,4%. Já no repasse de ICMS, imposto sobre circulação de mercadorias e serviços, os efeitos serão sentidos a partir de 2022. Em 2019, a Mercedes representou 11% de toda a movimentação de ICMS do município.
De acordo com a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Iracemápolis (Aciai), a Mercedes só perde em número de funcionários para a Usina Iracema, do grupo São Martinho, que emprega cerca de 2 mil pessoas. “Entre empregos diretos e terceirizados, a Mercedes ocupava de 500 a 600 trabalhadores”, disse o gerente administrativo Luiz Marrafon.
Segundo ele, a montadora era também um foco de atração de negócios para a cidade. “Outras empresas de fora que tinham negócios com eles, e mesmo as pessoas que vinham apenas visitar a fábrica, acabavam fazendo alguma coisa na cidade, no mínimo movimentavam o setor hoteleiro e gastronômico. É claro que encerrar tudo isso impacta bastante.”
O setor comercial reagiu com desalento à notícia. “Deixou todo mundo em choque. Hoje mesmo os funcionários vieram almoçar aqui e não escondiam a tristeza. Muita gente vai ficar desempregada”, disse a operadora de caixa Talita Neves Lopes, do Secret Garden, principal bistrô da cidade. Ela conta que o bistrô se instalou logo após a chegada da Mercedes, em 2016.
O Sindicato dos Metalúrgicos da Região, com sede em Limeira, convocou uma reunião com os trabalhadores da Mercedes para a próxima terça-feira, dia 22. “Vamos pedir uma satisfação sobre a situação dos trabalhadores dispensados e sobre o que será feito para minimizar as perdas deles com essa decisão”, disse o diretor José Carlos Fagundes.
Ele também vai questionar a prefeitura sobre os benefícios dados à montadora.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por José Maria Tomazela e Diogo de Oliveira, colaboraram Emily Nery, José Antonio Leme e Tião Oliveira
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