O Banco Central reconheceu nesta terça-feira, 15, que a inflação brasileira seguirá salgada no curto prazo. Na ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC citou os impactos para a inflação trazidos pela alta dos preços dos alimentos, pelas mensalidades escolares e pela energia elétrica mais cara.
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“As últimas leituras de inflação foram acima do esperado e, em dezembro, apesar do arrefecimento previsto para os preços de alimentos, a inflação ainda deve se mostrar elevada, com coleta extraordinária de preços de mensalidades escolares e transição para o mais elevado patamar de bandeira tarifária de energia elétrica”, afirmou o BC no documento.
Na semana passada, ao manter a Selic (a taxa básica de juros) em 2,00% ao ano pela terceira vez consecutiva, o BC já havia destacado a inflação de curto prazo.
No mercado financeiro, após o IPCA – o índice oficial de inflação – registrar alta de 0,89% em novembro, a projeção mediana é de elevação de 1,19% em dezembro, conforme o Relatório de Mercado Focus. Esta projeção é impulsionada pelo avanço no custo dos alimentos, pelas mensalidades escolares e pela energia elétrica. Em dezembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) retomou o sistema de bandeiras tarifárias na conta de luz, com taxa extra de R$ 6,243 a cada 100 kWh. Devido à pandemia do novo coronavírus, a agência vinha praticando a bandeira verde, sem taxa extra.
Apesar da pressão inflacionária nos últimos meses, o BC manteve a avaliação, na ata publicada nesta terça, de que os choques atuais são temporários. Na prática, o BC não acredita que a alta mais recente da inflação vá gerar efeitos duradouros.
Ainda assim, o BC vem preparando o terreno para, eventualmente, elevar os juros em 2021 para conter a alta de preços. Isso porque as projeções de inflação estão se aproximando das metas perseguidas pelo BC nos próximos anos. A avaliação é de que a instituição poderá acabar com o chamado forward guidance (ou prescrição futura, na tradução do inglês).
Adotado em agosto, o forward guidance é uma indicação técnica do BC de que não pretende elevar os juros se a inflação seguir sob controle e o risco fiscal não se alterar. O problema é que, nos últimos meses, a inflação ao consumidor está de fato mais salgada. O IPCA nos 12 meses até novembro acumulada alta de 4,31%.
Ao avaliar o cenário, o BC afirmou na ata que “em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas”. Na prática, se retirar esse ponto técnico de suas comunicações, o BC ficará mais livre para elevar os juros se achar necessário.
No Relatório de Mercado Focus, que compila as projeções das instituições financeiras, a expectativa é de que a Selic suba para 2,25% em agosto do próximo ano. O mês marcaria o início do ciclo de alta de juros.
Outra preocupação do BC é com o risco fiscal. Na ata desta terça, o BC reafirmou que “alterações de política fiscal que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto dos gastos ainda esteja nominalmente mantido”. Em outras palavras, a autarquia indicou que não basta manter o teto de gastos – regra fiscal que limita o gasto público ao equivalente ao orçamento do ano anterior, corrigido pela inflação. É preciso manter a dívida pública sob controle.
Atualmente, a dívida bruta brasileira está em 90,7% do Produto Interno Bruto (PIB), mas algumas projeções indicam que ela poderá se aproximar dos 95% até o fim do ano. Esta alta é justificada pelo aumento dos gastos públicos durante a pandemia do novo coronavírus e servem como um sinal de alerta para o governo. Isso porque a Dívida Bruta do Governo Geral – que abrange o governo federal, os governos estaduais e municipais, excluindo o Banco Central e as empresas estatais – é uma das referências para avaliação, por parte das agências globais de classificação de risco, da capacidade de solvência do País. Quanto maior a dívida, maior o risco de calote por parte do Brasil.
Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues
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