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Com vacina aprovada e doses de sobra, EUA têm 40% de avessos à imunização

(Foto: Shutterstock)

Com o sinal verde dado à vacina da PfizerBioNTech, os EUA estão prontos para começar amanhã (14) seu plano de imunizar 20 milhões até 31 de dezembro. Quatro em cada dez americanos, entretanto, ainda dizem que não pretendem se vacinar, segundo pesquisa do instituto Pew Research feita em novembro. Deste grupo, dois admitem tomar sua dose depois que outros o façam. A aceitação tem aumentado, já que em outubro metade dizia que não seria vacinada.

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O uso emergencial do imunizante da Pfizer foi autorizado na noite de sexta-feira pela agência americana que regula medicamentos e alimentos, a Food and Drug Administration (FDA). Cerca de 2,9 milhões de doses já serão distribuídas nesta semana, parte deverá estar disponível para os Estados hoje.

Com 328 milhões de habitantes, os EUA assinaram em maio um contrato para garantir 300 milhões de doses desenvolvidas pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford – cujas pesquisas sofreram atraso. Em julho, o país assegurou uma compra de US$ 2 bilhões para obter 100 milhões de doses da vacina da Pfizer-BioNTech – que exige a aplicação dupla para atingir a imunização de 95%. Em agosto, foi feita pelos americanos mais uma compra de 100 milhões de doses da Moderna, suplementada na sexta-feira (11) por mais um compromisso de igual volume para 2021.

Com isso, os EUA garantiram acesso a 600 milhões de doses. Só as vacinas da Moderna e da Pfizer estão próximas do uso. Além da Pfizer, que teve o imunizante aprovado, a Moderna foi a única farmacêutica que formalizou pedido de registro junto à FDA. A reunião do comitê consultivo da agência americana para avaliar a vacina da Moderna acontecerá no dia 17.

Dias após o começo da vacinação no Reino Unido, os americanos terão um desafio de distribuição maior. “Existem bons planos de logística, mas eles não foram testados na prática”, disse Joshua Petrie, professor do Departamento de Epidemiologia da Universidade de Saúde Pública de Michigan. “Tem sido um desafio fazer com que a população use máscaras em público. Então, também haverá desafios em termos de receptividade da vacina em algumas comunidades.”

Ontem, o chefe da Operação Warp Speed, Gustave F. Perna, afirmou que as doses, que estão concentradas no laboratório da Pfizer em Michigan, começariam a ser transportadas hoje. Ao menos 135 locais de vacinação estarão com a vacina em mãos hoje, segundo ele. As doses do imunizante chegarão a outros 425 locais na terça-feira e a mais 66 na quarta-feira. Antes de a vacina ser aprovada, a distribuição de seringas já foi feita, segundo o governo.

Para conquistar a confiança da população, o epidemiologista Anthony Fauci, que se tornou a cara do combate à pandemia nos EUA, deve ser vacinado em público. Os ex-presidentes George W. Bush, Bill Clinton e Barack Obama se ofereceram para fazer o mesmo.

Os primeiros a receber a vacina serão profissionais de saúde e moradores e trabalhadores de casas de repouso e clínicas médicas. Há cerca de 24 milhões de pessoas que se encaixam nestas categorias no país.

A chancela da FDA ao imunizante da Pfizer pode estimular outros países a seguirem o mesmo caminho, já que a análise da agência foi feita de forma independente e não apenas com base nas informações das farmacêuticas, como feito no Reino Unido, o que é visto por especialistas como um critério de credibilidade.

Para especialistas como o médico e advogado sanitarista Daniel Dourado o passo nos EUA pode ter impacto no Brasil, onde o uso da vacina da Pfizer tem sido negociado pelo governo federal. Segundo Dourado, legislação aprovada pelo Congresso em maio concede autorização excepcional para distribuição de medicamentos que sejam essenciais no combate à pandemia e registrados em ao menos uma de quatro autoridades estrangeiras, sendo a FDA uma delas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma, entretanto, que o pedido de autorização emergencial cabe às empresas e nenhum foi protocolado.

Primeiros

EUA e Canadá se juntarão ao Reino Unido no grupo de países que começou a imunização ainda em 2020. Na América Latina, México e Argentina também prometem começar a aplicação neste mês. Vários países europeus, como Bélgica, Grécia, Holanda e Alemanha, planejam a vacinação para os primeiros dias de janeiro, assim como a Índia.

A Rússia começou a vacinação em 5 de dezembro, mas sem concluir os testes com a Sputnik V. Na China, também há vacinas em uso emergencial, apesar de os testes não terem sido finalizados. Os britânicos foram, portanto, os primeiros a iniciar o amplo programa de vacinação com um imunizante que teve segurança e eficácia testados em larga escala.

“A corrida pela vacina se tornou mais do que apenas uma questão de saúde pública. Tornou-se um jogo de poder, influência, prestígio, status, o que os países conseguem demonstrar de inovação tecnológica”, afirma David Fidler, especialista em saúde do Council of Foreign Relations. “O estranho é que nessa competição geopolítica são China e Rússia que têm tentado fazer a diplomacia da vacina, colocando à disposição suas vacinas para outros países, enquanto os EUA estão à margem.”

Em meio à disputa de influência, China e EUA desenvolvem seus planos de imunização sem cooperação. Para exportar ao mundo, afirma Ian Bremmer, fundador da consultoria Eurasia Group, a China deve sair na frente não apenas pela disposição, diferente da de Trump, como pela tecnologia desenvolvida.

“A vacina chinesa é mais fácil de exportar e usar. Então, ainda que haja a mesma quantidade de vacinas nos EUA e na China, a chinesa será mais útil em países de baixa renda. Além disso, os chineses não têm a mesma necessidade de vacinação imediata no país, como os EUA têm. A China tem poucos casos de covid-19, enquanto os EUA têm 200 mil novos casos por dia”, afirma Bremmer. “Além disso, a China consegue produzir e exportar ao mesmo tempo, enquanto os EUA precisam vacinar toda a população. E ainda há um receio sobre a duração da imunidade. Se ela durar pouco, os EUA vão querer estocar, em vez de exportar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Beatriz Bulla

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