Quase 40% das empresas do setor de construção tinham grandes obras de infraestrutura, como pontes, viadutos e túneis, paradas no País em setembro. E a maioria há mais de um ano. O principal motivo apontado pelas empresas para a paralisação é a falta de recursos públicos para bancar o andamento dos projetos.
A constatação foi feita de um recorte especial da Sondagem da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) com 700 companhias. Não há dado anterior para comparação.
Para Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Ibre/FGV e responsável pelo estudo, o mais grave desse quadro é que o motivo principal para a interrupção das obras foi a questão financeira. Isto é, o não repasse dos recursos, apontado por 52,3% das empresas. Além disso, ela destaca que, quando há interrupção, os recursos já aplicados são desperdiçados.
A economista enfatiza a importância da retomada das obras neste momento, quando se buscam alavancas para estimular o crescimento do País. “Essas obras têm capacidade de mobilizar a atividade nos municípios onde estão e induzir o aumento do emprego.”
A construção civil como um todo é hoje um dos poucos setores que estão se saindo relativamente bem na crise. “Mas o mercado imobiliário, por si só, não tem condições de sustentar o crescimento, se não houver a infraestrutura caminhando: a economia começa a crescer em ritmo maior e para nas estradas, isso é algo que já conhecemos.”
Investimento público
Dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção do IBGE mostram a redução dos investimentos públicos na infraestrutura. Entre 2014 e 2018, o valor aplicado caiu 44%, resultado do fim das obras ligadas à Copa e Olimpíada, impactos da Lava Jato e a deterioração da situação fiscal dos governos.
Apesar da queda expressiva em valor, a fatia do governo nas obras de infraestrutura diminuiu de 52% para 50%, revelando que o poder público continua sendo importante como demandante.
As contas nacionais e a sondagem da FGV apontaram uma tímida recuperação da construção em 2019, impulsionada por investimentos privados. Estimativas da consultoria InterB indicam que a fatia dos investimentos em infraestrutura no PIB continuou em queda e atingiu 1,67% em 2019. Isso significa, segundo Ana Maria, que o setor privado não tem conseguido substituir o público.
Parcerias Público-Privadas e concessões de obras de infraestrutura, como produtores tomando a dianteira para recapeamento de estradas e reforma de portos, têm sido frequentes para resolver a falta de infraestrutura.
Na opinião da especialista, essas parcerias são uma possibilidade, diante das restrições orçamentárias. Mas ela frisa que, embora importante, sozinho o investimento privado não resolve a questão. “Precisamos estimular a atividade e não podemos prescindir do investimento público em infraestrutura como indutor do crescimento.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Márcia De Chiara e Douglas Gavras
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