Mercados

Com aversão a risco global, Bolsa fecha em queda de 4,25%

Na antepenúltima sessão do mês, o receio sobre os efeitos econômicos da segunda onda de covid-19 na Europa bateu forte à porta da B3, levando o Ibovespa a limitar o avanço em outubro a apenas 0,81%, após ter chegado a se aproximar de 8% na semana passada, perto então dos ganhos mensais observados entre maio e julho, quando se firmava recuperação iniciada em abril. Nesta quarta-feira, o índice da B3 fechou na mínima do dia, em queda de 4,25%, aos 95.368,76 pontos, no menor nível desde 2 de outubro (94.015,68), elevando as perdas na semana a 5,82% e as do ano a 17,53%. Reforçado, o giro financeiro chegou nesta quarta-feira a R$ 29,6 bilhões.

A perda de quase 6% na semana é até aqui a pior desde o tombo de 18,88%, o maior da crise pandêmica, observado no intervalo entre 16 e 20 de março, no início da quarentena. Desde o fechamento de 30 de abril (-3,20%), o Ibovespa não encerrava o dia em queda superior a 3%, e, na reta final de hoje, acentuou as perdas além de 4%: foi a maior baixa em porcentual desde 24 de abril (-5,45%). No encerramento, as perdas em Nova York chegaram a 3,73% (Nasdaq) e, na Europa, a 4,17% (DAX, de Frankfurt).

Na B3, destaque nesta quarta-feira para perdas de 6% em Petrobras (PN -6,09% e ON -6,14%), e de 3,63% para Vale ON, enquanto, nos bancos, chegaram a 6,02% (Bradesco ON) e nas siderúrgicas, a 7,74% (Usiminas). Na ponta do Ibovespa, Cielo cedeu 11,66%, à frente de CVC (-9,88%) e Azul (-9,58%). Nenhuma ação do Ibovespa conseguiu fechar o dia em alta.

A percepção de risco sobre a segunda onda de covid-19 no velho continente, onde Alemanha e França avaliam novas iniciativas para coibir a retomada da pandemia, impôs-se com intensidade desde a manhã. Nesta tarde, a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou que para evitar propagação maior do coronavírus, bares e restaurantes ficarão fechados em novembro, assim como teatros, cinemas e academias, por um mês – escolas, lojas e centros de cuidados diários permanecerão abertos. Segundo Merkel, as medidas são necessárias para evitar emergência de saúde pública grave: a Alemanha registrou quase 15 mil casos de covid-19 da terça para a quarta, o maior avanço diário desde o início da pandemia.

“Nos primeiros minutos de hoje, o Ibovespa perdia o suporte de 98,3 mil, já abaixo da referência anterior, de 99,5 mil, do fechamento de ontem. Agora, o suporte está aos 95,4 mil e, se perdê-lo, a linha seguinte está aos 93,5 mil pontos”, observa Rodrigo Barreto, analista gráfico na Necton. “Nestas últimas quatro sessões, negativas, o Ibovespa saiu de um ganho que se aproximava de 8% para menos de 1% no mês”, acrescenta o analista, referindo-se à volatilidade em Nova York, com o VIX a 40 pontos, como um fator a que nenhuma bolsa consegue ficar imune. “Outubro parecia que ia terminar melhor, mas veio água no chope.”

Além da segunda onda de pandemia na Europa enquanto os EUA ainda não conseguem diminuir o número de casos, a eleição americana permanece como fator de incerteza a ser ponderado pelos investidores nos próximos dias e semanas.

Após a frustração com a falta de entendimento entre republicanos e democratas sobre novo pacote de estímulos fiscais, a dosagem das medidas, quando e se vierem a se materializar, é outro fator de dúvida: não pode ser tímida a ponto de não produzir efeito, nem exuberante a ponto de levantar questões quanto ao endividamento americano.

“A expectativa é de que a volatilidade continue e, caso a pior combinação se concretize, o Ibovespa pode tomar o caminho dos 80 mil pontos”, diz Renato Chain, economista da Parallaxis Economia. “Além da segunda onda na Europa, a pandemia segue em curso nos EUA, com piora no Centro-Sul do país – o que no momento não tem chegado à atenção do mercado, concentrado na eleição americana”, acrescenta.

“A turbulência pode piorar caso se confirme a derrota de Trump para Biden e o resultado, conforme se espera, seja questionado pelo presidente, atrasando definição. Se Biden ganhar, a situação também não fica boa para o Brasil, tendendo a estar ainda mais isolado, politicamente, num momento em que nossos fundamentos já afastam o investidor estrangeiro”, conclui o economista.

Por Luís Eduardo Leal

Estadão Conteúdo

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