Mercados

Bolsa fecha em baixa de 1,40%, com foco em Brasília e no exterior

A política em Brasília voltou ao radar do mercado nesta terça-feira, ainda negativa no exterior com a incerteza em torno do desenlace da eleição nos Estados Unidos, na próxima semana, e sobre as consequências da segunda onda de covid-19 na Europa. Tanto os juros como o câmbio e as ações acentuaram o ajuste após declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no período da tarde, que contribuíram para colocar o Ibovespa a 99.413,93 pontos na mínima do dia, com fechamento a 99.605,54 pontos, em queda de 1,40%, a terceira perda consecutiva. Foi também o pior nível de fechamento desde o dia 19, tendo sustentado o patamar de seis dígitos no encerramento desde 20 de outubro, nas cinco sessões.

Mais forte do que no dia anterior, o giro financeiro totalizou nesta terça R$ 24,2 bilhões – na semana, o índice cede 1,63%, limitando o avanço no mês a 5,29%; no ano, o recuo é de 13,87%. Na máxima desta terça-feira, o Ibovespa foi aos 101.660,37 pontos, com abertura a 101.017,38 pontos.

Após intervalo tranquilo na frente política, especialmente desde a reaproximação entre Maia e o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente da Câmara criticou nesta terça a obstrução de sessão pela base aliada. “Se o governo não tem interesse nas medidas provisórias, eu não tenho o que fazer. Eu pauto, a base obstrui, eu cancelo a sessão. Infelizmente, é assim”, afirmou o deputado, convocando nova sessão para 3 de novembro.

“As declarações do Maia mostram que as coisas, na política, não estão tão joinhas como se chegou a fazer crer – assim, o político é algo que volta ao preço, bem como nos EUA, com a falta de avanço no pacote fiscal”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. “Na política americana, há tantos fatores de incerteza imediata, não só sobre quem vencerá a eleição, como também sobre a composição da Câmara e do Senado, e uma Suprema Corte com mais uma integrante conservadora, em vitória de última hora de Trump.”

A partir de quarta-feira, a atenção do mercado doméstico tende a se dividir entre as incertezas externas e os sinais do BC ao final da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). “Há complicações de cenário que precisarão ser endereçadas na comunicação. A inflação está bem pressionada no curto prazo; não é desprezível e parte dela ficará por período indeterminado. Há choques de oferta que permanecem em aberto. E, em termos fiscais, há uma incerteza completa, inclusive sobre as reformas e sobre como vai ficar o auxílio (emergencial)”, observa Vieira.

“O Maia não falou algo muito diferente do que já se sabia. Basta olhar o VIX (índice de volatilidade de NY) para ver que há uma aversão a risco que vem de fora, com muitas incertezas pendentes, como a eleição nos EUA e a evolução da Covid. Aqui, nos balanços de bancos, o do Santander não trouxe muita melhora (no terceiro trimestre), o que ajuda a entender o comportamento observado hoje nas ações do setor”, aponta Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura.

Após terem contribuído nas últimas sessões para ao menos limitar as perdas do Ibovespa, o dia foi de realização de lucros nas ações de bancos, setor de maior peso na composição do índice e que vinha sendo favorecido pelo ingresso de recursos estrangeiros na B3 em outubro, bem como pela busca por ações com desconto, ainda muito atrasadas no ano.

Assim, a Unit do Santander fechou nesta terça em queda de 4,73%, com Itaú PN em baixa de 2,85% e Bradesco PN, de 2,79%. Petrobras (PN -1,83% e ON -1,68%) seguiu em terreno negativo na sessão, enquanto Vale ON fechou praticamente estável (+0,05%).

Por Luís Eduardo Leal

Estadão Conteúdo

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