O crescimento de alunos do ensino superior em cursos à distância mostra que a modalidade se confirma como tendência no Brasil. Em 2009, o número de estudantes ultrapassava 330 mil. Já em 2019, os dados apontam um salto para mais de 1 milhão e meio, o que resulta em crescimento de 378,9%. Os números fazem parte do Censo da Educação Superior 2019, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC), em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira, 23.
De acordo com os dados, pela primeira vez na história o número de ingressantes na modalidade de ensino a distância (EAD) ultrapassou a quantidade de estudantes que optaram por iniciar a graduação presencial. Ao todo, 50,7% (1.559.725) dos alunos de instituições privadas escolheram o ensino à distância e 49,3% (1.514.302) o presencial. Parte dos especialistas acedita que a pandemia, que obrigou alunos a terem aulas pelo ensino remoto, pode impulsionar a procura por esse tipo de curso.
Durante a coletiva de imprensa, Alexandre Lopes, presidente do Inep, afirmou que ainda não podemos comparar as duas modalidades e definir qual delas é a melhor escolha para o estudante. “A maior parte dos alunos em EAD trabalha mais horas em relação aos de cursos presenciais, são de perfis diferentes. Mas os resultados têm sido próximos. Não dá para dizer que EAD seja de menor qualidade”, disse.
Parte dos educadores defende o ensino remoto como uma alternativa de cursos mais baratos, de formato mais flexível, o que facilita a vida de alunos com trabalho ou filhos, e com maior possibilidade de acesso em regiões distantes. Por outro lado, especialistas também apontam riscos de precarização da modalidade, em que pode haver menos disciplinas práticas, pouco acesso a laboratórios e bibliotecas e menor controle de qualidade.
O diretor de estatísticas educacionais do Inep, Carlos Moreno, ressaltou o crescimento dos cursos à distância principalmente na rede particular. “Na rede privada, pela primeira vez, o número de ingressos (de alunos) em EAD superou o de ingressos em (graduações) presenciais. Essa é uma tendência no Brasil: a ampliação dos cursos à distância.”
No Brasil, 88,4% (2.306) das instituições de educação superior são privadas e 302, públicas. Dessas, 43,7% (132) são estaduais; 36,4%, federais (110); e 19,9%, municipais (60). Segundo a pesquisa, existe uma participação de 75,8% (cerca de 6,3 milhões de alunos) matriculados em faculdades/universidades particulares. “Nesse sentido, a cada quatro estudantes de graduação, três frequentam estabelecimentos de ensino privados”, apontam os dados.
Os cursos de licenciatura na modalidade a distância também apontaram crescimento na última década. Segundo o Censo da Educação Superior, em 2019 a porcentagem dos alunos que optaram por se matricular no EAD foi de 53,3%. Além disso, o número de licenciaturas entre 2009 e 2019 triplicou. Em contraponto, no mesmo período a oferta caiu 5% nas aulas presenciais.
Durante a coletiva, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, falou sobre a importância desses cursos. “Quero reafirmar o que creio: professor é o grande protagonista da educação no Brasil. Demos atenção aos alunos, à infraestrutura, ao método de ensino, mas temos de focar na capacitação dos professores”, disse.
Na tabela dos cursos de licenciatura com mais alunos matriculados, Pedagogia entra em primeiro lugar com 815.743, seguido por Educação Física (153.527), Matemática (95.789), História (89.729), Biologia (79.309) e Letras Português (77.459). Entre os últimos colocados está Ciências Sociais (17.241) e Música (16.878).
Para Moreno, os números mostram “um desafio de criar mecanismos de atração de estudantes de licenciatura para cursar essas outras formações.” Ele também destaca que as taxas de conclusão de cursos são baixas.
Quando o assunto é algum tipo de financiamento ou bolsa, quase metade (45,6%) dos alunos da rede particular contam com esses benefícios. O Programa Universidade Para Todos (ProUni) apresenta 20% de adesão, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) (19%) e outros tipos (61%).
Professores de cursos presenciais têm mais qualificação
O Censo ainda destaca que o perfil dos professores. Dos 386.073 docentes que atuam na educação superior, 54,3% estão em instituições privadas e 45,7%, ao sistema público. Desses, 37,5% (144.874) possuem mestrado e 45,9% (177.017), doutorado.
Os dados mostram que na modalidade EAD a maior parte dos professores possuem mestrado e em cursos presenciais a maioria dos profissionais contam com doutorado. O Inep ainda destaca que foi alcançada a meta 13 do Plano Nacional de Educação (PNE). Ela estabelece “a ampliação da proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior.”
Por Andreza Galdeano
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