O ex-presidente do Banco Mundial Robert Zoellick disse nesta quarta, 21, esperar que o democrata Joe Biden, caso saia vitorioso das eleições nos EUA no dia 3 de novembro, não repita os erros de política externa cometidos pela administração do republicano Donald Trump, que tenta a reeleição.
Ao participar de uma live da Fundação FHC, Zoellick considerou como erros de Trump o foco dado na resolução do déficit comercial com a China e a guinada ao protecionismo que levou a tarifas sobre produtos importados não apenas de chineses, mas também de parceiros comerciais europeus e dos vizinhos Canadá e México.
O ex-presidente do Banco Mundial afirmou também que será positivo se o futuro governo buscar uma reaproximação com a Organização Mundial do Comércio (OMC), enfraquecida desde a chegada de Trump à Casa Branca, ainda que sejam necessários alguns ajustes de transparência e no conselho geral da organização para que tal movimento, rejeitado por americanos, seja mais aceitável.
Durante a live, que teve entre os entrevistadores os ex-ministros Pedro Malan e Celso Lafer, além do embaixador Sergio Amaral, Zoellick disse que se coloca em posição contrária à concepção majoritária de que a cooperação dos Estados Unidos com a China falhou.
“Francamente, se você olhar para economia ou segurança nacional, isso é falso. Muito foi realizado em conjunto”, observou Zoellick, acrescentando que, por motivações políticas, Trump foi levado a abrir um confronto contra a China. “Isso é politicamente popular, mas acho que ao longo do tempo as pessoas precisam refletir se a estratégia trouxe os resultados esperados”, acrescentou.
Segundo ele, os conflitos entre Estados Unidos e China não inviabilizam a diplomacia, mas mostram que ela deve funcionar de forma diferente.
Representante de Comércio dos Estados Unidos no governo de George W. Bush, Zoellick classificou como um erro “incrível” a decisão de Trump de abandonar as negociações conduzidas por seu antecessor, Barack Obama, no TPP, como é conhecido o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica.
Após criticar a insistência de Trump num acordo bilateral com a China – outro erro -, Zoellick citou o TPP como o tipo de tratado comercial que os Estados Unidos devem perseguir.
Ele observou que, embora o partido democrata tenha historicamente uma tendência mais protecionista, é interessante notar que hoje as pesquisas mostram apoio entre eleitores do partido de Biden à agenda comercial.
“Os eleitores democratas são hoje mais pró-comércio do que os eleitores republicanos. Acho que isso é, em parte, porque eles estão se opondo a Trump, mas também porque as gerações mais jovens enxergam o mundo de forma um pouco diferente”, tentou explicar.
Zoellick disse que não quer alimentar expectativas em relação a uma vitória de Biden, embora o democrata esteja num campo de maior apoio ao multilateralismo. Comentou que espera que, ao menos, os erros não se repitam, citando, como exemplo, o uso das tarifas da seção 232 contra carros importados do Canadá, do México ou da Europa.
Caso Trump não consiga a reeleição, Zoellick avaliou ser hoje prematuro projetar como o Partido Republicano vai se posicionar como oposição, já que isto vai depender de como será a reformulação da sigla se houver derrota nas urnas.
O ex-presidente do Banco Mundial comentou que Biden, uma “criatura” do Senado americano, vai tentar iniciar um trabalho com a oposição, mas não será uma surpresa se não conseguir cooperação em frentes importantes.
Lembrando dos três últimos presidentes democratas – Jimmy Carter, Bill Clinton e Barack Obama -, Zoellick disse que todos tomaram posse com altas expectativas e com base legislativa, mas, em dois casos, perderam o controle do Congresso após apenas dois anos de mandato.
Por Eduardo Laguna
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