As condições de financiamento das empresas continuam a ser favoráveis graças aos bancos centrais e aos regimes de empréstimos com garantia, diz um estudo da Companhia Francesa de Seguros de Comércio Exterior (Coface). Em muitos países, diz o documento, o choque para as empresas foi atenuado pelos programas de apoio dos governos e dos bancos centrais, que reagiram rapidamente para evitar um agravamento das condições de crédito para as firmas, como em 2008 e 2009.
“Os mecanismos de empréstimo com garantia são coerentes com esta lógica e devem ser mantidos, uma vez que os montantes máximos atribuídos por vários governos estão longe de estar esgotado”, preveem os economistas da seguradora francesa.
Na Europa, estes programas de empréstimos bancários garantidos têm várias características em comum: foram anunciados ao mesmo tempo – no final de março ou início de abril – e são garantias de empréstimos bancários, estando 70% a 90% do empréstimo coberto pela garantia. A maioria, do empréstimo está ao abrigo da garantia, pelo que o banco que cede o crédito suporta pelo menos uma pequena parte do risco.
De acordo com os cálculos da Coface, a dimensão dos montantes atribuídos até à data não corresponde necessariamente aos montantes inicialmente anunciado no final de março ou no início de abril. Por exemplo, os fundos atribuídos até à data na Alemanha representam apenas 1% do PIB, o nível mais baixo entre as principais economias europeias. No total, apenas 4% do montante total anunciado no final de março tinha sido desembolsado no final de junho.
Isto é muito menos do que na Espanha (42%), França (35%), Reino Unido (18%) e Itália (13%). No caso da Alemanha, mas também da Itália e do Reino Unido, onde estes empréstimos com garantia representam menos de um quarto dos novos empréstimos concedidos durante o primeiro semestre do ano, estes números sugerem que as empresas não utilizam muito este tipo de apoio, talvez porque já se beneficiam de outras medidas como trabalho com horário reduzido e diferimento de encargos, por exemplo.
Outra explicação potencial poderia ser o ritmo lento de execução dos programas. Nestes três países, a margem de manobra restante apela a uma prorrogação destes regimes para as empresas até 2021. Em contrapartida, embora este regime tenha desempenhado um papel fundamental no financiamento de empresas na Espanha e na França durante a primeira parte do ano – cerca de 50% do volume total de empréstimos bancários foram concedidos -, o seu êxito pode exigir um aumento do orçamento total, a fim de permitir a sua prorrogação para o próximo ano.
“Além disso, para além destes programas de empréstimos com garantia, as políticas monetárias devem permanecer inalteradas durante um longo período para contribuir com condições de financiamento favoráveis para as empresas. Este longo período de políticas monetárias poderia até durar mais do que o esperado”, calculam os economistas da Coface.
Eles lembram que em seu simpósio anual de verão em Jackson Hole, o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) anunciou uma grande mudança no quadro de sua política monetária, modificando a maneira como monitora a inflação em relação à meta. A meta será agora uma taxa média de 2% ao longo do tempo, o que significa que, se a inflação fosse inferior a 2% durante um determinado período e depois subisse acima do nível durante o próximo período, a contenção monetária deixaria de ser uma necessidade.
Esta mudança, escreveram os economistas da Coface, ocorreu em um contexto em que o Fed está preocupado com uma possível recuperação da inflação, acima deste limite, enquanto a situação econômica permanece mal orientada. “Esta decisão coincidiu com uma queda do dólar face às principais moedas, em particular o euro, sugerindo, por conseguinte, que a política monetária permanecerá muito acomodatícia durante um período mais longo do que o previsto”, reforçam os economistas.
Por Francisco Carlos de Assis
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