A queda do dólar em relação às principais moedas, em especial frente ao euro, teve como mérito permitir que as divisas emergentes compensassem parte da depreciação observada em março devido a saídas maciças de capital no contexto de uma aversão ao risco global historicamente elevada.
Dito de outra forma, embora estas saídas de capital tenham sido substanciais em março, elas não duraram: os fluxos líquidos de investimento de carteira para os mercados emergentes em geral foram positivos todos os meses de abril a agosto, anulando assim dois terços das saídas historicamente elevadas registradas apenas em março.
Os dados são de um estudo feito pela Companhia Francesa de Seguros de Comércio Exterior (Coface) a que o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, teve acesso com exclusividade.
No entanto, esta tendência geral não tem sido isenta de exceções, atestam os economistas da Coface. As saídas de capital, por exemplo, foram observadas em junho, julho e agosto na Turquia, África do Sul, Malásia e Ucrânia, o que sinaliza que os riscos cambiais não desapareceram completamente no mundo emergente.
A desconfiança persistente manifestada por investidores internacionais e residentes nesses países pode ser explicada pelas fraquezas de suas economias. Por exemplo, a África do Sul foi o país com a maior queda de atividade durante o segundo trimestre. Seu Produto Interno Bruto (PIB) caiu pela metade em comparação com o trimestre anterior.
Este valor é duas vezes superior ao da Índia, o segundo país com pior desempenho entre as principais economias emergentes. Existem várias outras razões para estes colapsos, que em alguns casos são maiores do que nas economias avançadas. Na Índia, México e África do Sul, o choque está atingindo economias já enfraquecidas. Na África do Sul, o crescimento médio foi inferior a 1% nos últimos cinco anos e a taxa de desemprego já ultrapassou 30% no primeiro trimestre de 2020.
“A queda nas receitas do turismo, as transferências mais baixas de trabalhadores expatriados ou mesmo os cortes previstos na despesa pública nos países mais endividados são todos choques potenciais para as economias emergentes, como salientamos em abril passado. A recuperação também foi dificultada por uma inflação elevada, devido a perturbações nas cadeias de abastecimento de produtos agrícolas”, diz o documento da Coface.
As depreciações monetárias na sequência das saídas maciças de capital em março e abril também contribuíram para esta tendência, que impediu os bancos centrais de baixarem as suas principais taxas tanto quanto inicialmente desejavam. No entanto, esta tendência ascendente da inflação poderá desaparecer nos próximos meses, à medida que os preços dos serviços continuarem a aumentar, na melhor das hipóteses, a um ritmo moderado.
Em última análise, a fim de avaliar o impacto desta crise nos países emergentes, deve ser tida em conta tanto a recessão em 2020 como a recuperação parcialmente mecânica na sequência dos efeitos de convergência e de base em 2021.
“Medindo a diferença entre o PIB em volume previsto pela Coface em 2021 e o de 2019 para 113 países emergentes e em desenvolvimento, notamos que as consequências da pandemia sobre o crescimento têm sido muito diferentes de um país para outro. Entre as 20 economias que alcançariam o crescimento cumulativo mais forte durante esses dois anos, cerca de metade está na Ásia, incluindo a China e o Vietnã. A outra metade é composta exclusivamente por países africanos, incluindo Costa do Marfim, Gana, Ruanda e Tanzânia”.
No outro extremo do espectro, entre as 15 economias com pior desempenho, ou com um PIB de 2021 pelo menos 7 pontos abaixo do de 2019, estão na América Latina: México, Venezuela, Argentina, Equador, Peru, Belize e Nicarágua.
Por Francisco Carlos de Assis
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