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Coface: após recuperação mecânica ‘pós-lockdown’, desafios maiores estão por vir

Após uma recuperação mecânica da economia mundial “pós-lockdown”, os desafios mais difíceis de serem superados ainda estão por vir. É o que revela um estudo feito pela Companhia Francesa de Seguros de Comércio Exterior (Coface) com dados econômicos de 162 países ao qual o Broadcast teve acesso com exclusividade.

O trabalho resultou do esforço conjunto dos departamentos econômicos da Coface Francesa e de suas filiais espalhadas pelo mundo. No Brasil, o trabalho foi comandado pela economista-chefe Patrícia Krause.

Diz o estudo que, semelhante ao trimestre passado, as incertezas em torno das previsões apresentadas neste “barômetro” são muito altas. Elas estão principalmente ligadas à situação de saúde global.

“Desde junho, a pandemia ganhou força em muitos países emergentes e em desenvolvimento. Índia e, em menor grau, Indonésia, Marrocos, Argélia e Argentina são alguns exemplos. Enfraqueceu ligeiramente, mas permaneceu em uma intensidade significativa em outros países como Rússia, África do Sul, Brasil e México”, ressalta o estudo.

Na Europa, a “segunda onda” parece estar se aproximando mais rápido do que inicialmente previsto pelos especialistas mais pessimistas, particularmente na Espanha e, em menor grau, na França. Nos EUA, a situação continua preocupante em vários Estados, apesar de uma modesta melhoria a nível nacional desde meados do verão.

De acordo com os economistas da Coface, as diferentes políticas de testagem de um país para outro aumentam a dificuldade de leitura dessas trajetórias. Em alguns países, o baixo número de testes se traduz em uma subestimação da escala da epidemia, como na Índia, por exemplo, enquanto em outras nações, o alto número de testes desde o final do período de contenção em maio e junho torna obsoletas comparações com o número de novos casos no período anterior, particularmente na Europa.

“A opinião pública e os governos estão determinados a evitar um segundo lockdown rigoroso a todo o custo, uma vez que levaria as economias de volta a uma recessão profunda. Embora o cenário central da Coface não inclua a implementação de tais medidas, esse risco não pode ser excluído. Aliás, em 11 de setembro, Israel se tornou o primeiro país a anunciar um segundo lockdown nacional”, destaca Patrícia Krause.

Investimentos

Neste contexto de extrema incerteza e na dependência da disponibilidade de uma vacina, de acordo com a companhia francesa, as empresas têm sido cautelosas. Cancelaram ou adiaram muitos projetos de investimento durante o período de contenção, devido aos efeitos combinados de saídas reduzidas e/ou linhas de produção temporariamente interrompidas durante o “lockdown”.

Isso causou a destruição de muitos empregos. De acordo com as últimas estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), diz o estudo, o número de horas trabalhadas diminuiu 14% em todo o mundo no primeiro semestre de 2020, o que equivale a cerca de 400 milhões de postos de trabalho. A maior queda foi observada na América do Norte e na América Latina, com recuo de 18%.

As razões subjacentes a estas horas não trabalhadas diferem de país para país: embora, em muitos casos, reflitam empregos que foram efetivamente destruídos, em outros, estão principalmente ligadas às horas não trabalhadas no âmbito de regimes de trabalho com horário reduzido.

Os empregos destruídos penalizaram principalmente os trabalhadores menos qualificados, para os quais é geralmente mais difícil trabalhar remotamente.

“Em outras palavras, esta crise provavelmente será um catalisador para a desigualdade e frustração social. Além disso, os consumidores também têm sido cautelosos, uma vez que enfrentam um risco acrescido de desemprego. Em primeiro lugar, foram um pouco restringidos durante o período de contenção, uma vez que não podiam consumir vários bens e serviços”, observa o estudo da Coface.

Por Francisco Carlos de Assis

Estadão Conteúdo

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