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Marqueteiro de Boulos quer reeditar ‘azarão’ de 1988

A escolha de Chico Malfitani, 70 anos, para comandar o marketing da campanha de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo foi selada durante uma feijoada no boteco em frente à Estação Butantã do Metrô. Nada mais natural. Afinal, Boulos e Malfitani se conheceram nas arquibancadas do Pacaembu, durante um jogo do Corinthians, décadas atrás.

O hoje candidato à Prefeitura de São Paulo era um garoto que frequentava o estádio com o pai, o infectologista Marcos Boulos, e Malfitani era fundador da Gaviões da Fiel e paciente do “doutor Boulos”. “Na feijoada, Chico deu uns toques sobre a campanha. A gente tinha uma linha mais de falar das propostas e ele disse: ‘Não, tem que falar de você, da Erundina e dos valores pessoais de vocês dois'”, relata Boulos.

Na campanha, Malfitani é o responsável por fazer a ponte entre o candidato, de 38 anos, e a vice, de 85. O marqueteiro conduziu a vitoriosa campanha de Luiza Erundina em 1988, pelo PT, e foi secretário municipal de Comunicação na gestão.

Em conversa recente com o candidato, Malfitani não conteve as lágrimas ao recordar a eleição de 1988 – Boulos chorou com ele. Quase ninguém acreditava na eleição de Erundina, nem o PT. Mulher, nordestina, esquerdista “radical”, desconhecida por grande parte do eleitorado, Erundina foi o azarão que bateu nomes fortes como Paulo Maluf (então no PDS) e José Serra (PSDB). “Foi a coisa mais emocionante da minha vida depois do nascimento dos meus filhos”, diz Malfitani.

Para o marqueteiro, a comparação com a campanha de Boulos é inevitável. O candidato do PSOL também tem estrutura precária, poucos recursos, mas está em terceiro lugar nas pesquisas. Malfitani também enxerga semelhanças entre os perfis de Boulos e Erundina. “A personalidade dos dois é muito parecida. A diferença é que a Erundina veio da Paraíba para São Paulo e o Guilherme fez o caminho contrário, saiu de Pinheiros para ir morar na periferia. Admiro muito isso.”

Essas semelhanças têm sido exploradas pela campanha. O PSOL tem apenas 17 segundos nos blocos do horário eleitoral. “É uma campanha tão dura quanto a de 1988, mas também não vou subestimar. Tenho 85 comerciais em 30 dias. Isso pode mexer com a cabeça das pessoas”, disse o marqueteiro.

Jornalista com passagens pela Veja, Folha de S.Paulo, TV Globo, Bandeirantes e Record, Malfitani se aproximou do PT cobrindo as históricas greves do ABC lideradas por Luiz Inácio Lula da Silva e acabou trocando a profissão pela militância. A estreia como marqueteiro foi em 1984, no primeiro programa nacional do PT na TV, um “latifúndio” de uma hora em horário nobre que serviu de cartão de visitas do partido para o eleitorado brasileiro.

O programa credenciou Malfitani a assumir a campanha de Eduardo Suplicy à Prefeitura no ano seguinte. Ele ficou em terceiro lugar, atrás de Jânio Quadros (PTB) e Fernando Henrique (PSDB), mas o resultado foi fundamental para o crescimento do PT nos anos seguintes.

A carreira de Malfitani começou em 1979, em plena ditadura militar. Ele e o também jornalista Antônio Carlos Fon levaram para o Morumbi lotado uma faixa na qual se lia: “Anistia ampla, geral e irrestrita”. A faixa aberta na arquibancada à revelia da Polícia Militar escancarou para todo o Brasil a realidade dos exilados políticos e faz parte da história da resistência à ditadura.

Afastado das campanhas nos últimos anos (a última foi a de Suplicy para o Senado em 2018), Malfitani é presença certa em qualquer manifestação da esquerda desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Segundo Boulos, a participação dele em sua campanha é mais um ato de militância do que uma atividade profissional. “Naquela feijoada ele me disse que queria ajudar mesmo que não recebesse um real por isso. É claro que eu topei.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Ricardo Galhardo

Estadão Conteúdo

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