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BC segue atento ao desenrolar das medidas, em especial a redução de auxílios

O Banco Central (BC) reforçou nesta quinta-feira, 15, que permanece atento ao comportamento da economia enquanto as medidas emergenciais adotadas durante a pandemia de covid-19 se aproximam do final de seus efeitos. O Relatório de Estabilidade Financeira (REF), divulgado hoje, aponta que os bancos têm capacidade de absorver perdas que decorram do fim dessas ações.

“O BC permanece atento ao desenrolar dessas medidas, em especial à redução nos auxílios emergenciais e ao comportamento das dívidas que tiveram suas parcelas postergadas, à medida que termina a carência concedida”, destacou o documento.

O REF lembra que o adiamento de parcelas de dívidas bancárias teve sucesso em aliviar a liquidez de curto prazo dos tomadores de empréstimos, preservando a solvência dos bancos. Por outro lado, a medida pode ter postergado a materialização do risco de crédito.

“A fim de mitigar esse risco, o sistema elevou o volume de provisões e apresentava, em junho de 2020, um dos maiores índices de cobertura de Ativos Problemáticos (APs) da série. Além disso, os resultados dos testes de estresse demonstram resiliência e capacidade de o sistema bancário absorver o nível de perdas em todos os cenários simulados”, completou o BC.

O documento repete que a pandemia de covid-19 tem provocado a maior retração econômica global desde a Grande Depressão, interrompendo a recuperação da atividade doméstica e levando a um “recuo significativo do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e um declínio sem precedentes no segundo trimestre de 2020”.

Ainda de acordo com o BC, o atual patamar da taxa Selic – em 2,00% ao ano – pode gerar aumento da volatilidade de preços de ativos e afetar a dinâmica do sistema financeiro e do mercado de capitais.

“O Sistema Financeiro Nacional entrou nesse período desafiador bem capitalizado, bem provisionado e com liquidez elevada. As medidas implementadas tempestivamente pelo governo federal, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo BCB reforçaram as condições de resiliência do SFN para enfrentar o aumento do risco à estabilidade financeira, decorrente da covid-19. Assim, os mercados financeiros funcionaram adequadamente, e o balanço do sistema bancário cresceu consideravelmente no primeiro semestre de 2020, com elevado volume de captações e suprimento de crédito para a economia real no ritmo mais acelerado dos últimos cinco anos”, completou o documento.

Crédito bancário

O Banco Central afirmou, por meio do REF, que no primeiro semestre de 2020 “o crédito bancário ganhou protagonismo no financiamento às grandes empresas, com menor atuação do mercado de capitais”. Ao mesmo tempo, o BC destacou que o crédito às micro, pequenas e médias empresas avançou dois dígitos, algo que não ocorria desde 2013.

“O crédito bancário a empresas avançou em ritmo mais acelerado desde meados de 2014, influenciado, sobretudo, pelo crédito às corporações de grande porte, que buscaram recursos para reforçar a liquidez, financiar a cadeia produtiva e proteger-se da variação cambial”, disse o BC. “O crédito às MPMEs voltou a avançar a dois dígitos no início de 2020, antes da pandemia, e manteve esse ritmo ao longo do semestre. Essa tendência deverá acelerar-se no segundo semestre, em razão dos principais programas governamentais de incentivo que foram operacionalizados no final de junho de 2020.”

Crédito às famílias

O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) destaca, ainda, que diferentemente do que ocorreu no crédito para as empresas, a pandemia de covid-19 provocou um arrefecimento no ritmo de crescimento dos empréstimos para as famílias.

O documento avalia que o novo coronavírus afetou negativamente a ocupação e a confiança do consumidor, enquanto o comprometimento de renda das famílias cresceu e chegou próximo do pico registrado em 2015.

“Nesse contexto, verificou-se um arrefecimento expressivo nas concessões de crédito a famílias, sobretudo nas modalidades de financiamento de veículos e no cartão de crédito. Em relação à variação do estoque, o crédito imobiliário foi a única modalidade que ganhou fôlego no primeiro semestre de 2020”, detalhou o REF.

O Banco Central apontou que, embora todas as modalidades de crédito para pessoas físicas mostrem sinais de recuperação a partir de junho, a expectativa é de crescimento em um ritmo inferior ao que era previsto antes da pandemia, já que as famílias seguem adiando gastos não essenciais.

O documento cita ainda cerca de um quarto do estoque de crédito aos consumidores foi repactuado em razão da pandemia, sendo mais da metade desse volume referente ao financiamento imobiliário. “Assim como no crédito a empresas, esse expressivo volume de repactuações pode estar postergando a materialização do risco de crédito para o final de 2020 e início de 2021, uma vez que parte dos tomadores pode não conseguir honrar os termos dos contratos repactuados”, alertou o BC.

Por outro lado, o REF assegura que a tendência de alta do risco nas modalidades de financiamento de veículos e no crédito não consignado foi dissipada.

“A causa do aumento do risco das principais modalidades de crédito às famílias em 2020 está mais relacionada às consequências pontuais da pandemia, que elevaram o risco do financiamento habitacional e do cartão de crédito ao máximo histórico, do que a questões relacionadas à queda na qualidade das concessões”, completou o documento.

Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues

Estadão Conteúdo

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