O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, disse nesta quarta-feira (14) que a revisão das operações compromissadas anunciada pelo órgão na semana passada, com o encurtamento das operações, era natural ao passo que o Tesouro Nacional também encurtou os prazos de suas emissões. Segundo ele, o BC não quer forçar o mercado a comprar mais papéis do Tesouro.
“O BC tem como obrigação prezar pela estabilidade de preços, e a ferramenta para isso é a operação de overnight. Temos situação no Brasil que é da cultura do CDI. O investidor geralmente demanda remuneração dele do CDI, é natural que investidores que tenham recursos em instrumentos que remunerem pelo overnight”, afirmou, em videoconferência organizada pela Renascença DTVM & Panamby Capital. “A overnight é a taxa que importa para gente”, completou.
Em meio ao cenário adverso para o governo se financiar no mercado, o Tesouro Nacional e o Banco Central anunciaram na última sexta-feira, 9, mudanças na oferta de títulos públicos federais e nas operações compromissadas, diante da maior demanda do mercado financeiro por instrumentos de curto prazo.
O BC fixou um limite máximo de R$ 600 bilhões a ser aceito no leilão de rolagem da operação compromissada com vencimento em 29 de outubro, ante um valor financeiro de retorno estimado em R$ 981 bilhões. As demais condições do leilão permanecem inalteradas.
Segundo Serra, a decisão do BC tem objetivo de propiciar que os dealers sigam com recursos para exercer papel de gerar liquidez.
“Teremos leilões mais frequentes com prazos mais curtos, que foi uma demanda dos próprios dealers. Tudo que a gente fez foi pensando em reduzir os prazos de execução da política monetária de forma a não concorrer com a atuação do Tesouro Nacional, que por questões arbitrais tem sido mais curta. O BC não está forçando os agentes a comprarem títulos públicos”, alegou. “Para nós, é indiferente se investidores vão alocar recursos no overnight ou vão migrar para títulos públicos”, acrescentou.
Migração
Bruno Serra também disse que a autoridade monetária tem observado uma migração entre investimentos em reais, mas negou que a causa seja o nível atual da Selic. “Se fosse a taxa Selic que estivesse gerando a dificuldade do Tesouro em captar recursos, o dinheiro estaria saindo de investimentos do Brasil. Investidor está saindo de LFT com 2% e pouco de remuneração e indo para compromissada rendendo 1,90%”, afirmou na videoconferência.
Segundo ele, há saída de recursos de investimentos com migração para poupança, CDBs e fundos de curto prazo – sendo que todos eles remuneram abaixo da Selic. “O fluxo cambial tem sido negativo sim, e em março foi muito negativo. Na margem, o fluxo ainda está negativo, mas bem pouco negativo”, completou.
Para o diretor do BC, há uma estrutura de mercado que tem levado a uma maior procura pelas operações compromissadas em vez de títulos públicos. “Temos um instrumento com pouca liquidez com a praticamente a mesma remuneração das operações de overnight. Desde 2016 até recentemente houve incentivos que criaram uma demanda cativa para título federal longo que atendeu estratégia do Tesouro para alongamento da dívida”, detalhou.
Para Serra, a raiz do problema é fiscal, com o aumento da necessidade de financiamento do Tesouro durante a pandemia de covid-19. “Mas os fundos de investimentos, compradores cativos de título, pararam de crescer de tamanho. Será preciso incentivar fundos, bancos e investidores a alocar investimentos em ativos mais longos, mas pelo preço e não por incentivos tributários”, avaliou.
Bruno Serra avaliou que o movimento no mercado de títulos, apesar de um ajuste abrupto na últimas semanas, tem se comportado bem nos últimos dias. “A informação está chegando bem na ponta final”, afirmou.
Por isso, destacou o diretor, o BC entende que ainda não precisa atuar na compra de títulos. “Com a autorização pelo Congresso, temos um instrumento mais amplo que poderia ser usado em situação de disfuncionalidade do mercado. Agora, disfuncionalidade não é preço baixo ou preço alto, é um conceito mais amplo”, completou.
Serra disse estar bastante confortável em relação à indústria de fundos no momento. “Disfuncionalidade na renda fixa seria ver um movimento de forma maciça, numa corrida contra a indústria de fundos”, acrescentou.
Por Eduardo Rodrigues e Fabrício de Castro
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