O presidente da gestora de investimentos Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, afirma que o Brasil está em uma trajetória “explosiva” de endividamento, que se reflete em um pífio crescimento econômico e que só reduz a credibilidade do governo junto ao mercado financeiro.
“Claro que fica todo mundo apavorado quando vêm propostas que tentam dar uma ‘escapadinha’ do teto de gastos. A volatilidade que a gente viu (nas últimas semanas) foi uma amostra do que poderia acontecer. O Brasil continua flertando com a beira do precipício econômico. Estamos bem pertinho dele.”
Para Figueiredo, se a questão fiscal não for endereçada de forma definitiva, fica difícil para qualquer político brasileiro – incluindo o presidente Jair Bolsonaro – pensar em reeleição em 2022.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão:
O governo foi eleito com apoio do setor financeiro. A promessa de austeridade foi cumprida?
O Brasil vinha numa trajetória explosiva da dívida, a ponto de ser uma das mais altas entre os países emergentes. O mercado via esse governo com bons olhos por causa da questão fiscal e de trazer o País para uma certa modernidade, de redução do tamanho do Estado. Mas a gente acha que ainda está muito no meio do caminho. Aí veio a pandemia – e entrou o ambiente emergencial. Mas, agora, passando a pandemia, a gente tem de voltar para a agenda anterior. A gente avançou muito pouco.
Há confiança de que a equipe econômica vá conseguir empurrar a agenda de reformas?
O teto de gastos é a última âncora para que você tenha alguma visão de sustentabilidade para a trajetória da dívida pública. Mas o teto, por si, não é suficiente. Enquanto não houver reformas, garanto que não vai passar (no mercado financeiro) a sensação de descontrole. Claro que fica todo mundo apavorado quando vêm propostas que tentam dar uma ‘escapadinha’ do teto de gastos. A volatilidade que a gente viu (nas últimas semanas) foi uma amostra do que pode acontecer. O Brasil continua flertando com a beira do precipício econômico. Estamos bem pertinho dele.
A popularidade do presidente Bolsonaro subiu após o auxílio emergencial. E muita gente vê a extensão da distribuição de renda como forma de mantê-la. A escolha do presidente seria entre o mercado e os votos?
Esse é um falso dilema – e põe falso nisso. Numa situação emergencial, claro que você precisa fazer isso (distribuir renda), mas ficar perpetuando (a alta de gastos) vai fazer a dívida crescer cada vez mais. Se isso acontecer, o País vai cair no precipício. E eu quero ver qualquer um se eleger num ambiente econômico caótico. Porque é o que vai acontecer se a gente não cuidar disso (dívida pública). É simples assim. Se a gente não fizer isso, o Brasil vai para o buraco.
O mercado ainda acredita que o atual governo vá comprar uma agenda de austeridade?
Estamos tão no limite (na questão da dívida) que, se não cuidarmos disso, a chance de reeleição é baixa. Se não atacarmos minimamente a questão do gasto público até 2022, chegaremos lá em um ambiente tão dramático que a chance de renovação em todas as esferas de poder é enorme.
E ‘tocar a bola’ até 2022, deixando a coisa mais ou menos do jeito que está, mas mantendo o teto de gastos, é viável?
Claro que não é suficiente. A discussão dos gastos públicos está colocada. O Estado alcançou um tamanho que a gente não consegue conviver mais. A maioria dos Estados e municípios está quebrada. O rei está nu. Não dá para bater a bola de lado. Não tem como.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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