Depois de quatro semanas consecutivas acumulando altas, o dólar caiu 2,5% nos últimos cinco dias, graças à melhora do cenário externo e uma trégua no noticiário político negativo interno. A perspectiva de um acordo para aprovar medidas fiscais de estímulo nos Estados Unidos aumentou o apetite por risco e ajudou a enfraquecer a moeda americana de forma generalizada no exterior. No mercado doméstico, como a definição das fontes de financiamento do novo programa social do governo ficou para depois das eleições municipais, o risco fiscal arrefeceu por ora, também ajudado por uma reaproximação do governo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Mesmo com a queda semanal, o dólar ainda acumula valorização de 38% este ano, mantendo o real como a moeda com pior desempenho no mercado internacional. Nesta sexta-feira, no mercado à vista, o dólar caiu 1,11%, para R$ 5,5264, a menor cotação desde 24 de setembro, quando encerrou no nível de R$ 5,51. No mercado futuro, o dólar com liquidação em novembro era negociado em queda de 1,40%, a R$ 5,5280 às 17h.
“O comportamento do dólar hoje foi guiado por desdobramentos políticos”, afirma o analista sênior de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, citando as negociações em Washington envolvendo o novo pacote de estímulo fiscal e as eleições presidenciais. A moeda americana caiu ao menor nível em mais de duas semanas ante o euro e o franco suíço e ainda recuou de forma generalizada nos emergentes e países exportadores de commodities.
Na tarde de hoje, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, conversaram por cerca de 30 minutos sobre o pacote. Os republicanos aumentaram a oferta de estímulos, de US$ 1,6 trilhão, para US$ 1,8 trilhão, mas os democratas falam em ao menos US$ 2,2 trilhões. Apesar da animação dos mercados, analistas políticos estão céticos de que um pacote seja aprovado até as eleições do dia 3 de novembro. Para o banco Wells Fargo, é pouco provável a aprovação antes do pleito, mas as chances são crescentes de um pacote de estímulo após a confirmação do vencedor.
No mercado doméstico, o estrategista da TAG Investimentos, Dan Kawa, destaca que a semana foi mais amena em termos políticos, com Bolsonaro e Maia mostrando apoio a ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e a uma agenda econômica de reformas. Além disso, indicadores da atividade seguem mostrando força. A luz amarela veio do IPCA de setembro, divulgado hoje e que mostrou aceleração ante agosto. Para Kawa, fatores específicos e pontuais puxaram a alta. O maior risco para o Brasil segue o de “desancoragem fiscal”, este sim capaz de tornar a inflação pontual em inflação estrutural.
Por Altamiro Silva Junior
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