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Alimentação e bebidas pressionam alta do IPCA de setembro, afirma IBGE

As famílias voltaram a gastar mais com alimentos no mês de setembro. O grupo Alimentação e bebidas saiu de uma elevação de 0,78% em agosto para um avanço de 2,28% em setembro, dentro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O grupo contribuiu com 0,46 ponto porcentual para a taxa de 0,64% do IPCA no mês.

“Os alimentos responderam por 72% do IPCA do mês”, disse Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. Segundo Kislanov, houve uma disseminação maior de produtos alimentícios mais caros, o que levou a uma inflação de alimentos também mais elevada que o habitual para meses de setembro.

“Realmente houve mais componentes alimentos em alta do que há normalmente para essa época do ano. E tem dois componentes influenciando preços. Tem a questão do auxílio emergencial, uma vez que os recursos são direcionados pelas famílias mais pobres para a compra de alimentos, e tem a questão do câmbio, que torna mais atraente a exportação, o que acaba restringindo a oferta desses produtos no mercado doméstico”, justificou Kislanov.

Os alimentos para consumo no domicílio passaram de aumento de 1,15% em agosto para um avanço de 2,89% em setembro. O óleo de soja subiu 27,54%, enquanto o arroz aumentou 17,98%. Juntos, os dois itens responderam por um impacto de 0,16 ponto porcentual sobre a inflação do mês. No ano, o óleo de soja acumula uma alta de 51,30%, e o arroz já subiu 40,69%.

“De fato, houve alta na exportação de arroz e de soja, que pode ajudar nessa maior restrição (de oferta) no mercado doméstico”, apontou Kislanov.

As famílias também pagaram mais em setembro pelo tomate (11,72%), leite longa vida (6,01%) e carnes (4,53%). “Entre os cinco maiores impactos no IPCA de setembro, quatro são alimentos. De fato, a gente teve alta significativa em alimentos bastante representativos na cesta de consumo das famílias”, afirmou Kislanov.

As carnes foram o item de maior pressão no IPCA de setembro, uma contribuição de 0,12 ponto porcentual, seguidas pelo arroz (0,10 ponto porcentual), gasolina (0,09 ponto porcentual), óleo de soja (0,06 ponto porcentual) e leite longa vida (0,05 ponto porcentual).

“Teve alta também de produtos que são substitutos. As pessoas saem da carne e vão para o frango, que subiu 2,20%. Então acaba aumentando a demanda, o que pode pressionar o preço. Mas tem produtos alimentícios em queda de preços também”, completou. Em setembro, ficaram mais baratos a cebola (-11,80%), batata-inglesa (-6,30%), alho (-4,54%) e frutas (-1,59%).

A alimentação fora do domicílio passou de uma queda de 0,11% em agosto para uma alta de 0,82% em setembro, puxada pelos aumentos nos preços do lanche (1,12%) e da refeição (0,66%). “Na parte da alimentação fora, pode ser tanto efeito de inflação de custos, porque os alimentos estão mais caros, e também pode ser questão de demanda, desse processo de flexibilização, de reabertura de alguns locais. Com as pessoas saindo mais, pode surgir efeito da demanda na alimentação fora”, avaliou Kislanov.

Transportes

As famílias brasileiras gastaram 0,70% a mais com Transportes em setembro, um impacto de 0,14 ponto porcentual sobre o IPCA. “Alimentação e Transportes responderam juntos por 94% do IPCA de setembro”, observou Pedro Kislanov.

A gasolina subiu 1,95% em setembro, uma contribuição de 0,09 ponto porcentual para a inflação do mês. Os preços do óleo diesel avançaram 2,47%, e o etanol aumentou 2,21%. O gás veicular caiu 3,16%.

O seguro voluntário de veículo teve recuo de 2,73% em setembro, acumula uma queda de 11,86% no ano. As passagens aéreas aumentaram 6,39%, após quatro meses consecutivos de quedas.

“Lembrando que a nossa metodologia prevê que a coleta seja feita com dois meses de antecedência. Esse resultado de setembro foi feito com coleta em julho para quem ia viajar em setembro. Mesmo assim passagem aérea acumula um recuo de 55,17% no ano”, ressaltou Kislanov.

A alta na tarifa aérea no último mês pode ter relação com uma recuperação da demanda em meio ao processo de reabertura de atividades econômicas e flexibilização de medidas de isolamento social de combate à pandemia do novo coronavírus.

“Pode ser sim efeito da flexibilização do confinamento. As pessoas podem estar viajando mais e demandando mais esse tipo de produto, mas a gente não pode afirmar”, ponderou o pesquisador do IBGE.

Maior alta desde 2003

A alta de 0,64% registrada pelo IPCA em setembro foi o resultado mais elevado do indicador para o mês desde 2003, quando havia aumentado 0,78%, informou o IBGE. Em setembro de 2019, o IPCA ficou em -0,04%. Como resultado, a taxa acumulada pelo IPCA em 12 meses acelerou de 2,44% em agosto para 3,14% em setembro, ante uma meta de 4% perseguida pelo Banco Central este ano. A taxa foi a mais acentuada desde março, quando estava em 3,30%.

Por Daniela Amorim

Estadão Conteúdo

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