A JBS se juntou a um grupo de pecuaristas do oeste de Mato Grosso para tentar intensificar o uso da terra e, desta forma, reduzir a pressão pela abertura de novas áreas de Cerrado para formação de pasto. Por meio da Friboi – braço pecuário da empresa – firmou parceria com a Liga do Araguaia, que reúne 62 fazendas pecuaristas no Vale do Araguaia, correspondendo a 149 mil hectares de pastagens e um rebanho estimado de 130 mil cabeças.
O coordenador executivo da Liga do Araguaia, José Carlos Pedreira de Freitas, conta que a ideia, no âmbito do projeto batizado de “Rebanho Araguaia”, é a JBS/Friboi subsidiar parte do trabalho de consultorias no sentido de transferir às fazendas interessadas práticas de gestão e de intensificação pecuária.
Segundo Pedreira, o projeto, que começou em agosto, deve ter duração de três anos. No primeiro ano, a Friboi subsidia 80% dos custos das consultorias para o pecuarista; no segundo ano, 50% e, no terceiro, 20%. A redução gradativa do porcentual subsidiado ocorrerá porque, ao longo do processo, se espera que o criador esteja cada vez mais especializado tanto em gestão quanto em intensificação do uso da terra, garantindo maior rentabilidade. “No caso da gestão, foi contratada a consultoria Inttegra e, para intensificação com base em integração lavoura-pecuária (ILP) e adubação de pastagem, a Ímpar Consultoria no Agronegócio”, explicou o executivo. “Além disso, há parceria com o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) para transferir instruções sobre boas práticas socioambientais além de bem-estar animal.”
O diretor de Relacionamento com Pecuaristas da Friboi, Fábio Dias, acrescenta que o objetivo é fazer com que as fazendas pecuárias “melhorem suas métricas ligadas à gestão e à produtividade”. Desta forma, com os resultados de gestão, zootécnicos e agronômicos, a Friboi pretende comprovar que fazendas sustentáveis “dão mais dinheiro e produzem mais de verdade”. “Vamos provar isso com os números”, afirma.
Ele diz ainda que, dentro do projeto, os participantes poderão escolher se querem adotar apenas a técnica de adubação de pastagem ou a integração lavoura-pecuária – na qual culturas de grãos se alternam com pasto, o que contribui para reformar a área e garantir renda extra com a lavoura, embora a atividade-fim seja o gado. “Independentemente do que escolherem, as propriedades também vão ter de melhorar a gestão”, reforça.
De acordo com Pedreira, inicialmente 12 propriedades das 62 que compõem a Liga do Araguaia foram selecionadas para participar do Rebanho Araguaia. “Isso no primeiro ano. No segundo ano, mais 10 ingressarão e, no terceiro ano, o total deve alcançar 30.” Dias, da Friboi, lembra que a JBS possui 12 frigoríficos da empresa na região da Liga do Araguaia, o que pesou na escolha da parceria para o projeto. “É uma presença muito forte”, diz ele, citando que a intensificação da atividade garante, por tabela, bovinos de melhor padrão, porque alcançam rapidamente peso de abate – a China, por exemplo, principal importador de carne do Brasil, só adquire carne proveniente de animais abatidos até os 30 meses de idade. “Resulta em menor pressão sobre a mata nativa da região, predominantemente situada no bioma Cerrado.”
Outro motivo apontado por Dias é o fato de que os pecuaristas unidos em torno da Liga do Araguaia têm um olhar para a sustentabilidade ambiental da atividade. “Nosso contato com a Liga do Araguaia já é de pelo menos dez anos; eles são organizados, têm visão empresarial, ambiental, e são fornecedores regulares de bovinos para as nossas plantas.”
De fato, a Liga do Araguaia, que se define como um grupo que visa à “pecuária sustentável, à mitigação de emissões de gases de efeito estufa, o apoio à intensificação e à regularização ambiental e à certificação no Vale do Araguaia” tem sido “laboratório” para vários outros projetos. Entre eles, o Carbono Araguaia, que conta com apoio da Dow e da Corteva, e é voltado ao monitoramento da redução de emissões de gases do efeito estufa resultante da adoção de práticas sustentáveis na pecuária, e o Baixo Carbono Araguaia, feito em parceria com a Embrapa Gado de Corte, a fim de examinar a viabilidade técnica na intensificação pecuária na redução dos GEEs, entre vários outros projetos ligados à sustentabilidade da atividade na região.
Por Tânia Rabello
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