A adoção da estratégia de inflação média pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) dá espaço para eventuais cortes da taxa de juros “se a economia virar” no futuro, disse nesta quinta-feira, 24, o presidente da autoridade, Jerome Powell, em audiência no Senado americano. O dirigente ainda afirmou que a recuperação econômica no país tem sido mais forte do que ele pensava.
Na mais recente edição do simpósio de Jackson Hole, o mais importante evento de política monetária do mundo, Powell anunciou que passaria o Fed a adotar a estratégia de inflação média – ou seja, permitirá à inflação romper a meta de 2% por um tempo, como forma de compensar o período em que rodou abaixo disso, como o atual. “Queremos apenas que a inflação seja de 2% na média, não muito mais que isso”, repetiu hoje o presidente do BC americano. “Por algum tempo, o desafio era a inflação alta. O desafio da atualidade é a pressão desinflacionária”, acrescentou.
Como tem feito nos últimos dias (desde terça-feira, ele participa de audiências no Congresso americano), Powell voltou a dizer que os Estados Unidos precisarão de mais apoio fiscal para superar a crise do coronavírus. “Inadimplência pode aumentar em um futuro próximo sem mais assistência às famílias”, alertou aos senadores. Há algum tempo, o Legislativo americano não consegue chegar a um acordo com a Casa Branca para aprovar um novo pacote de injeção de liquidez, fato que se transformou em verdadeiro impasse para a retomada econômica no país.
O presidente do Fed aproveitou a sessão para defender as ações do Fed durante a pandemia. “Não concordo com a premissa de que compramos muitas dívidas de inadimplentes”, declarou. ” É muito claro que o mercado financeiro está funcionando nos EUA”, disse, em seguida. Ele, porém, evitou comentar sobre o atual nível do mercado acionário americano.
Impostos
Jerome Powell e o secretário de Estado americano, Steven Munchin, têm uma opinião em comum: não concordam com a elevação de impostos nos Estados Unidos em meio à pandemia, segundo declarações que fizeram nesta na audiência no Senado americano.
Questionados sobre essa possibilidade pelo senador democrata Robert Menendez, Powell e Mnuchin limitaram-se a comentários sucintos. “Não, não é uma boa ideia”, afirmou, primeiro, o secretário do Tesouro. O presidente do Fed completou: “eu concordo, não é uma noa ideia”.
A possibilidade de mais impostos nos Estados Unidos vem sendo especulada em meio à complicada situação fiscal do país, que aumentou os gastos recentemente para estimular a economia, impactada pela crise do novo coronavírus. O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, defende a reversão de isenções fiscais concedidas durante a administração de Donald Trump, candidato republicano à reeleição.
Pacote fiscal
Steven Mnuchin aproveitou a sessão legislativa para tecer novos comentários sobre o impasse entre democratas e republicanos em torno de um novo pacote fiscal nos EUA, considerado fundamental para apoiar a economia em recessão. “Clamo por um acordo bipartidário para ajudar as pequenas empresas”, declarou o secretário do Tesouro, que afirmou ter conversado por muitas vezes sobre o tema, nos últimos dias, com a presidente da Câmara dos Representantes do país, a democrata Nancy Pelosi.
Em seguida, porém, Mnuchin alertou que a situação de algumas empresas é tão grave que elas precisariam de subsídios, e não apenas de financiamentos.
Powell alertou que há “riscos de baixa” para a economia dos Estados Unidos, caso não seja aprovado algum novo apoio fiscal. “Eu não priorizaria o equilíbrio fiscal no meio de uma pandemia”, comentou Powell ao ser questionado por um legislador sobre o quadro atual.
Mnuchin, por sua vez, também defendeu que o Congresso chegue a um acordo sobre o tema. “Algum apoio fiscal é melhor que nada”, disse o secretário do Tesouro, em meio a dificuldades entre governistas e oposicionistas por um acordo bipartidário.
Mnuchin disse ainda que ele e o governo apoiariam a extensão do apoio a salários de funcionários de empresas do setor aéreo, em troca de manutenção de empregos por essas companhias, no âmbito do Programa de Proteção à Folha de Pagamentos (PPP, na sigla em inglês). O secretário do Tesouro também comentou que é favorável a uma lei para perdoar de modo automático empréstimos menores no PPP.
Por Eduardo Gayer
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