Com audiência concorrida, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi nesta quinta-feira (24) à Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado para falar sobre declarações contra o regime de Nicolás Maduro feitas durante a visita do secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, a Roraima, na última sexta-feira (18).
O requerimento de convite para a ida do ministro ao colegiado foi motivado pelo fato de alguns parlamentares terem entendido que o secretário usou o Brasil para promover o presidente norte-americano Donald Trump, que está na reta final da campanha pela reeleição e ter feito declarações contra o regime de Maduro.
Araújo rechaçou todas as críticas às declarações feitas na coletiva de imprensa ocorrida após visita. Para o brasileiro, um dos elementos mencionados pelo secretário Mike Pompeo foi objeto de polêmica por uma “má tradução”. “Foi traduzido que ele haveria dito: o nosso mundo está consistente. E a gente vai tirar essa pessoa e vai colocar no lugar certo”, como se estivesse referindo a Nicolás Maduro. Na verdade, o que ele disse em inglês, eu vou tentar uma tradução melhor, foi: “nossa vontade é coerente, o nosso trabalho será incansável e chegaremos ao lugar certo”, afirmou.
Para o chanceler, no contexto de toda a entrevista, fica claro que as afirmações foram feitas a partir de uma perspectiva humanitária, de defesa dos direitos humanos. Ao ressaltar que, para o Brasil, o governo da Venezuela é o de Juan Guaidó, também reconhecido por outros 56 países, ele garantiu ainda que nenhuma crítica foi feita diretamente ao povo venezuelano, ou contra o país vizinho.
“De forma nenhuma! Ofensa à Venezuela seria a gente ignorar o sofrimento do povo venezuelano. Nós temos total solidariedade pelo povo venezuelano. É uma nação amiga, é uma nação irmã, com uma tradição democrática imensa; terra de Bolívar, como se sabe. “”É importante que a gente não use a palavra Venezuela para se referir a esse bando de facínoras que ocupa o poder ainda na Venezuela, pelos quais a gente só tem desprezo – e justamente, me parece. É importante esclarecer isso”, afirmou, em referência à Nicolás Maduro.
O chanceler brasileiro usou uma metáfora feita à época pelo senador Esperidião Amim (SC) para explicar as críticas feitas por ele e pelo secretário de estado americano na visita ao Brasil. Araújo negou que tenha recebido Mike Pompeu “em sua casa”, para falar mal do vizinho [ Venezuela].
“Vamos supor, então, que nós, aqui no Brasil, estamos em uma rua e temos um vizinho que é muito amigo nosso. De repente, esse vizinho tem a casa dele invadida por um narcotraficante que praticamente escraviza o vizinho, prende no porão o vizinho e toda a sua família e ocupa essa casa do vizinho. Vamos supor que um dos filhos do vizinho consegue escapar, vem para o nosso terreno, nós o acolhemos e, então, recebemos um amigo de uma outra rua, que também é amigo do nosso vizinho, e vamos falar dessa situação. Então, o fato de nós falarmos dessa situação não é uma agressão ao nosso vizinho, é uma preocupação com o fato de que a casa do nosso vizinho foi tomada por um narcotraficante”, disse.
Na avaliação de Araújo, as críticas “ao narcotraficante que tomou essa casa” não significa agressão ao vizinho. “É o contrário: é o nosso dever de vizinhança e de solidariedade”, disse.
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