Após manter a Selic em 2,00% ao ano na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, deixou a porta nesta terça-feira para novas reduções na taxa básica de juros que, segundo a ata do encontro, devem ser espaçadas no tempo. Isso porque o colegiado quer monitorar os impactos de um nível de juros sem precedentes no sistema financeiro e no mercado de capitais, além de possibilitar um tempo de transição a esses setores.
“O Comitê concluiu que eventuais novas reduções na taxa de juros exigiriam cautela e gradualismo adicionais. Para tal, se necessárias, novas reduções de juros demandariam maior clareza sobre a atividade e inflação prospectivas e poderiam ser temporalmente espaçadas”, destacou o documento.
O BC apontou o longo histórico de juros muito elevados da economia brasileira para repetir o alerta de que juros baixos em níveis inéditos podem comprometer o desempenho de alguns mercados e setores econômicos, com potencial impacto sobre a intermediação financeira.
“Ao analisar o sistema financeiro de forma ampla, considerado as suas diversas indústrias, mercados, produtos e serviços financeiros, o Comitê refletiu que um ambiente com juros baixos sem precedentes pode gerar aumento da volatilidade de preços de ativos e afetar, sem o devido tempo necessário de transição para um novo ambiente, o bom funcionamento e a dinâmica do sistema financeiro e do mercado de capitais”, reforçou o documento.
Os membros do colegiado discutiram a importância relativa dos principais componentes do custo de crédito e dos custos operacionais do sistema financeiro. A ata lembra, no entanto, que os bancos mostraram resiliência em testes de estresse frente ao risco de crédito decorrente da pandemia de covid-19.
Ambiente externo
O Copom reforçou, ainda, que o ambiente internacional tem se mostrado mais favorável às economias emergentes, mais ponderou que ainda há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário benigno.
A ata da reunião, o colegiado voltou a destacar a retomada da atividade nas principais economias, ainda que concentrada no mercado de bens, e a moderação na volatilidade dos ativos financeiros.
“Uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais pode atrasar a recuperação da demanda por bens e o processo de recomposição de estoques. Ao mesmo tempo, a própria evolução da pandemia da covid-19 pode atuar como um limitante para o pleno funcionamento do setor de serviços”, avaliou o Copom.
Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues
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