Após nove cortes consecutivos, o Banco Central decidiu na noite de quarta-feira, 16, manter a Selic (a taxa básica de juros) em 2% ao ano. Em meio aos esforços do governo para recuperar a economia após o choque trazido pela pandemia do novo coronavírus, o BC paralisou o processo de baixa de juros, iniciado em julho de 2019, para evitar eventuais efeitos negativos sobre o mercado financeiro. Para os próximos meses, apesar da pressão recente do arroz sobre a inflação, a autarquia indicou que não pretende elevar a Selic e, ao mesmo tempo, avaliou que o espaço para mais cortes é pequeno.
A decisão de ontem era largamente esperada pelos economistas do mercado. Isso porque no início de agosto, quando cortou a Selic pela última vez, o BC já havia indicado a intenção de parar em setembro. A visão é de que uma Selic a 2% ao ano – o menor nível da série histórica – deixa pouco espaço para novas reduções. Há a preocupação de que uma taxa muito baixa possa afetar o funcionamento dos mercados de câmbio e de fundos de investimento.
De um total de 48 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas esperavam pela manutenção da Selic em 2,00% ao ano ontem. Para 43 das 48 casas que enviaram estimativas, o mais provável é que o ciclo de reduções da taxa tenha, de fato, se encerrado em agosto.
Com a Selic a 2% ao ano, o Brasil segue com juro real (descontada a inflação) negativo. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está em -0,81% ao ano. O País possui o 16º juro real mais alto do mundo, considerando as 40 economias mais relevantes. No topo do ranking está a Turquia, com juro real de +3%.
No comunicado que acompanhou a decisão de ontem, o BC avaliou que a retomada da atividade nas principais economias do mundo tem gerado um ambiente “relativamente mais favorável” para os países emergentes. “Contudo, há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário, frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia da covid-19”, pontuou o BC.
Ao tratar da atividade econômica no Brasil, o BC afirmou que os indicadores recentes sugerem uma “recuperação parcial, similar à que ocorre em outras economias”. A autarquia ponderou que os setores mais afetados pelo distanciamento social “permanecem deprimidos, apesar da recomposição da renda gerada pelos programas de governo”. Além disso, o BC voltou a defender a importância das reformas e do controle fiscal no País.
Inflação. Sem citar especificamente o arroz – produto que vem sendo apontado como o vilão para os preços nas últimas semanas – o BC afirmou que a inflação deve se elevar no curto prazo. Além da alta nos alimentos, contribui para isso, conforme a autarquia, a “normalização parcial do preço de alguns serviços”, passada a fase mais intensa de isolamento social.
Ainda assim, o BC trabalha com uma inflação em níveis controlados. No cenário que utiliza câmbio fixo e projeções do mercado financeiro para os juros, a autarquia alterou sua estimativa para o IPCA – o índice oficial de preços – em 2020 de 1,9% para 2,1%. No caso de 2021, a expectativa caiu de 3,0% para 2,9%.
Para o superintendente de Pesquisa Macroeconômica do Santander Brasil, Maurício Oreng, a tendência é de que a Selic fique estacionada em 2% ao ano “por muito tempo”. “Enquanto o regime fiscal e a inflação se mantêm, enquanto tivermos projeções abaixo da meta, o BC não vai subir juros”, disse. (Colaborou Aline Bronzati)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues
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