O grupo pernambucano Ser Educacional fechou acordo com a Laureate para adquirir as universidades da empresa americana no Brasil, por R$ 3,8 bilhões. Mas esse pode não ser o fim dessa história: a Yduqs (ex-Estácio), segunda maior empresa do setor no País, afirmou, em comunicado, que pretende competir pelos ativos. O vencedor da disputa deve ser definido por critérios de concorrência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Comandado pelo empresário Janguiê Diniz, o grupo Ser se comprometeu a pagar R$ 1,7 bilhão pelos ativos. O restante estaria dividido em dívidas e em troca de ações. Caso o acordo seja mesmo sacramentado, a Laureate passaria a deter 44% do capital do Ser e teria duas cadeiras no conselho de administração.
O mercado reagiu muito bem ao movimento do grupo pernambucano. Suas ações subiram mais de 10%, fechando o dia cotados a R$ 16,30. Caso a transação seja concluída, o Ser espera cumprir todos os trâmites até o fim de 2021.
A visão de analistas é de que o Ser teria enormes ganhos, tanto de escala quanto de rentabilidade com o negócio. “Se a transação for concluída, o Ser consolidaria sua posição entre os maiores grupos de educação superior privada no Brasil, mais que dobrando sua base”, disseram, em relatório, os analistas Susana Salaru e Edgard Pinto de Souza, do Itaú BBA.
Juntando os dados de ambas as empresas no primeiro trimestre, o grupo teria 455 mil alunos (hoje, o Ser tem 188 mil). Seria o terceiro maior nome do segmento, atrás da Yduqs, com 633 mil alunos, e da Cogna (antiga Kroton), com 921 mil.
Além disso, chegaria a 1.175 vagas em cursos de Medicina, os mais rentáveis da educação superior. Nessa área, as mensalidades são maiores e a taxa de evasão é menor – ponto fundamental em meio ao cenário de recessão que levou as empresas a abrirem mão da rentabilidade para segurarem as matrículas.
Juntando forças
Concentrado nas regiões Norte e Nordeste, o grupo Ser ganharia relevância no mercado paulista, de maior rentabilidade. Passaria a ser dono, por exemplo, da Universidade Anhembi Morumbi e do Centro Universitário FMU.
De acordo com a Laureate, o mercado brasileiro é o segundo maior para a companhia, com 267,4 mil alunos em junho. Só ficava atrás do mercado andino, com 323,2 mil alunos. Mas a base no Brasil caiu 13% na comparação anual, e as receitas, 40%.
Os efeitos da covid sobre o setor de educação são vistos como um incentivo para acelerar fusões. “Felizmente ou infelizmente, o mercado vai ter de se consolidar. Outros ativos ainda serão vistos com carinho”, afirma Jorge Junqueira, sócio-gestor da Gauss Capital.
Briga acirrada
A Laureate deve ser alvo de disputa por sua relevância. A Yduqs prometeu ontem uma proposta “mais atraente” pelos ativos da americana, sem dar detalhes. “Esse movimento foi inesperado. Falamos com eles sobre o tema há um tempo, e eles foram os únicos que se mostraram negativos em relação a uma possível aquisição da Laureate”, disse um analista, que pediu para não ser identificado.
O fiel da balança nessa disputa deve ser o Cade. O órgão rejeitou, por exemplo, a fusão entre Yduqs e Cogna, em 2017. À época, o Cade considerou que a sobreposição de mercado entre as duas companhias não seria resolvida pelas vendas de ativos em determinadas regiões.
No caso da Laureate, o grupo Ser conseguiria aprovar a compra mais facilmente, na visão dos analistas, porque adquiriria ativos em regiões nas quais sua presença ainda é tímida. Para a Yduqs, que tem atuação distribuída por todas as regiões do País, a argumentação regulatória seria mais difícil. “O risco de Cade é um pouco maior para a Yduqs, em nossa análise”, disse uma fonte ligada ao setor ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Matheus Piovesana e Felipe Laurence
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