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Empresário denunciado em desvios na gestão Witzel esvaziou casa e fugiu

Quando os agentes da Polícia Federal (PF) chegaram ao endereço do empresário José Carlos de Melo para cumprir mandados de prisão e busca e apreensão na Operação Tris In Idem, no final do mês passado, encontraram a casa vazia. Nenhum funcionário ou carro na garagem. Até mesmo as lixeiras foram esvaziadas, segundo os agentes.

Ao vasculharem o local, os policiais encontraram câmeras de segurança e computador sem HDs ou com registros apagados. No escritório, haviam cópias das cinco últimas declarações de imposto de renda do empresário, “com aspecto de que haviam sido impressas há pouco tempo”.

Registros do condomínio localizado na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, indicaram que o empresário esteve no imóvel todos os dias da semana de 24 a 28 de agosto, mas não pernoitou em nenhum deles, permanecendo na casa por poucas horas, durante o dia.

As informações constam na nova denúncia, desta vez por organização criminosa, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), e outras 11 pessoas investigadas por desvios em compras e contratações pelo Estado.

“De fato, considerado o contexto das investigações, o comportamento de José Carlos de Melo ao evitar dormir em casa na última semana indica que buscou se furtar do cumprimento de medidas cautelares contra si, as quais normalmente são executadas nas primeiras horas da manhã”, afirma a PGR.

José Carlos Melo, que está entre os denunciados, é apontado como chefe de um dos três núcleos ocultos instalados na máquina pública fluminense. Menos famoso entre políticos de carreira, secretários e empresários já conhecidos no noticiário, Melo atuaria nos bastidores, agenciando organizações sociais e empresas interessas em integrar o esquema em troca de uma ‘comissão’.

Descrito na denúncia como “pessoa de expressivo poder econômico”, capaz de movimentar quantias vultosas, que chegam a casa de R$ 1 bilhão, o empresário também teria acesso a policiais federais. Os contatos na PF teriam vazado informações sobre a Operação Favorito, que investigou suspeitas de irregularidades em contratos da Saúde do Rio, e também sobre a Operação Tris In Idem.

As informações sobre a atuação do empresário foram obtidas pelos investigadores a partir da delação premiada firmada com o ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, que sintetizou ainda a “carreira” de Melo nos esquemas. Ele teria começado como parceiro de Mário Peixoto, outro denunciado, e ganhado autonomia com a ascensão de Witzel.

A influência de José Carlos Melo no governo foi confirmada pelo depoimento do também empresário Edson Torres que, após a operação que afastou Witzel e prendeu 17 pessoas, procurou o Ministério Público Federal para confessar sua participação no grupo criminoso.

Segundo os relatos, somados a indícios reunidos pelos investigadores a partir dos materiais apreendidos, Melo teria contato direto com o Secretário de Ciência e Tecnologia Leonardo Rodrigues, a quem pagaria mesada de R$ 150 mil para garantir contratos. Entre eles, negócios milionários firmados na Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) e no Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

Defesas

Os advogados Eric Trotte e Bruno Alvernaz, que representam o secretário Leonardo Rodrigues, se manifestaram. “Acerca dos fatos relacionados à Operação ‘Tris in Idem’ noticiados pela imprensa, o Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Leonardo Rodrigues, vem através dos seus advogados, informar que ainda não teve acesso aos autos do inquérito. Ressalta, no entanto, que não praticou qualquer crime e que as afirmações do delator Edmar Santos não passam de meras ilações desprovidas de relação com a realidade fática. Ademais, em que pese a empresa da qual o secretário é sócio tenha sido alvo de busca e apreensão, nada foi apreendido na sua sede, o que demonstra a inexistência de qualquer ato ilícito relacionado à empresa e ao Secretário”, disseram.

A reportagem busca contato com a defesa do empresário José Carlos de Melo. O espaço está aberto para manifestações.

Por Rayssa Motta

Estadão Conteúdo

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