Categories: Política

STJ manda soltar universitário negro que diz ter sido vítima de flagrante forjado

Há quase dois meses, o jovem Gabriel Apolinário, de 18 anos, foi forçado a mudar de endereço. Após ter sido detido por policiais militares no Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, ele deixou o apartamento onde morava com os pais, a poucos quilômetros do local onde foi abordado, em direção ao Centro de Detenção Provisória Belém II, na zona leste da capital.

O estudante de Marketing foi preso sob acusação de tráfico de drogas, mas, segundo a família, o flagrante foi forjado pela PM. Após recurso negado em segunda instância, o advogado Bruno Borragine, que defende o jovem, acionou o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O ministro Sebastião Reis Júnior, do STJ, determinou nesta quinta-feira, 11, que o estudante fosse solto. Na decisão, considerou a detenção desproporcional e lembrou que, em razão da pandemia do novo coronavírus, prisões processuais devem ser decretadas com máxima excepcionalidade.

“A princípio, diante das circunstâncias em que se deram os fatos, das condições pessoais do agente (primário e sem antecedentes) e em razão da pandemia causada pela Covid-19, a prisão processual deverá se dar com a máxima excepcionalidade. Dessa forma, a substituição da prisão por medidas cautelares mostrasse proporcional e adequada à situação dos autos”, escreveu o ministro.

Mensagens reunidas no processo mostram que, uma semana antes da prisão, Apolinário havia sido ameaçado por policiais. “Quase fui preso. Eles estavam cheios de drogas no carro. Eles iam forjar. Ele falou que ia me levar para subir de patente”, contou o jovem a um amigo.

No dia da flagrante, imagens de câmeras de segurança mostram que o estudante saiu com roupa esportiva e sem mochila. A outro amigo, avisou que sairia para correr. Não voltou.

Imagens de câmaras de segurança mostram que Gabriel andava sem mochila pouco antes de ser abordado

Os policiais afirmaram que ele não portava drogas, mas indicou a localização de uma mochila, supostamente escondida em um matagal próximo, com 208 papelotes com cocaína, 487 supositórios contendo cocaína e 20 invólucros plásticos com maconha.

Após ser preso, o estudante enviou um bilhete à família: “Oi, mãe. Estou bem. Reza por mim. Eu não estava traficando. Obrigado por se preocupar. Só penso em vocês aí fora. Amo vocês”.

A partir daí, começou o imbróglio judicial para soltar o jovem e provar sua versão sobre a abordagem. Depois de um recurso frustrado e de uma sentença copiada, segundo a defesa, o STJ permitiu que ele volte para casa, em ordem que foi cumprida nesta sexta, 11, mas ainda é preciso garantir a absolvição.

“As provas serão, todas, apresentadas perante a ação penal”, afirma o advogado do estudante.

Por Rayssa Motta

Estadão Conteúdo

Recent Posts

Para CNseg, número de segurados no Brasil é muito baixo e precisa ser ampliado

O diretor técnico e de estudos da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Alexandre Leal, afirmou…

4 horas ago

Justiça nega pedido por AGE na Petrobras que protelaria posse de Magda Chambriard

A Justiça Federal negou um pedido de decisão liminar que poderia obrigar a Petrobras a…

22 horas ago

Visões de Maria, estátuas que choram; veja novas regras do Vaticano para validar evento sobrenatural

O Vaticano revisou na sexta-feira, 17, o processo de avaliação de supostas visões da Virgem…

1 dia ago

Reguladores e setor bancário dos EUA devem focar em riscos mais críticos, diz diretora do Fed

A turbulência bancária ocorrida no ano passado nos Estados Unidos ilustra claramente que supervisores e…

1 dia ago

ABBC diz que redução no teto do consignado INSS prejudica bancos de menor porte

A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) afirma que as reduções do teto dos juros do…

2 dias ago

Governo enviará MP para flexibilizar lei de licitações em casos de calamidade, diz ministra

A ministra da Gestão, Esther Dweck, anunciou que o governo federal enviará uma Medida Provisória…

2 dias ago