Os juros já tinham alta firme pela manhã em meio ao leilão histórico do Tesouro e avançaram ainda mais à tarde, por conta da maior aversão ao risco nos mercados internacionais. Na ponta longa, fecharam com aumento em torno de 20 pontos-base, com a curva acentuando a inclinação em relação à primeira etapa.
A oferta de quase 45 milhões de títulos prefixados no leilão, absorvida parcialmente, respondeu por boa parte da pressão nas taxas, também num dia de indicadores locais acima do esperado, o que juntamente com a piora da percepção de risco fiscal, endossa a ideia de que o ciclo de queda da Selic chegou ao fim.
Numa sessão de volume robusto, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 2,84%, de 2,793% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,004% para 4,11%. A taxa do DI para janeiro de 2025 terminou em 5,97%, de 5,794% na quarta, e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 6,743% para 6,95%.
O leilão do Tesouro foi o maior da história em termos de risco (DV01), de R$ 6,95 bilhões, considerando LTN e NTN-F, segundo a Renascença DTVM.
A instituição turbinou não somente a oferta de LTN, de 30,5 milhões na semana passada para 43 milhões nesta quinta-feira, como também quintuplicou a de NTN-F, de 300 mil para 1,5 milhão. O lote de LTN foi integralmente absorvido apenas nos prazos mais curtos, de 1/4/2021 (20 milhões) e 1/10/2022 (3 milhões), sendo que no papel para 1/1/2024 vendeu 16,663 milhões dos 20 milhões ofertados. O lote de NTN-F foi vendido integralmente.
Passado o leilão, ao contrário do que normalmente ocorre em razão do desmonte de posições de proteção, não houve alívio. Ao contrário, as taxas subiram ainda mais, com as longas renovando máximas, alinhadas à deterioração do humor externo.
Para o sócio-gestor da LAIC-HFM, Vitor Carvalho, a conjunção de política fiscal e monetária está fazendo estragos na curva de juros, uma vez que a Selic muito baixa a mantém muito empinada. “O Tesouro vai ter dificuldade para rolar a dívida, e tem vencimento grande no ano que vem”, afirmou.
Ao mesmo tempo, ainda que os DIs guardem algum prêmio para a Selic já a partir de 2020, nos Departamentos Econômicos a avaliação é de que a taxa básica deve permanecer no atual piso histórico por um período prolongado. E, para o economista-chefe do BNP Paribas Brasil, Gustavo Arruda, um dos motivos é justamente o fiscal, citando que um aperto monetário poderá elevar o custo da dívida que deverá fechar este ano em 93% do PIB e em 98% no ano que vem. “Não podemos nos dar ao luxo de acelerar o juro”, disse, em entrevista coletiva trimestral online da instituição.
Por Denise Abarca
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