A Embraer anunciou ontem a demissão de 900 funcionários que trabalham nas unidades da empresa no Brasil. Outros 1,6 mil aderiram a planos de demissão voluntária – que foram propostos em julho e agosto -, num total de 2,5 mil desligamentos. Antes da pandemia, a fabricante de aviões tinha 20 mil empregados, sendo que 16 mil deles operavam no Brasil. No total, 15,6% da mão de obra da companhia no País será desligada. Considerando também as operações internacionais, serão 12,5%.
O tamanho do corte é semelhante ao realizado pelas outras fabricantes de aeronaves em meio à pandemia da covid-19. A americana Boeing já anunciou a demissão de 16 mil funcionários, o equivalente a 15% do total. Na europeia Airbus, foram 15 mil trabalhadores (10%).
Segundo o comunicado da Embraer, as demissões estão relacionadas aos efeitos causados pela pandemia na economia global e pelo cancelamento da venda da divisão de aviação comercial para a Boeing. “O objetivo é assegurar a sustentabilidade da empresa e sua capacidade de engenharia”, justificou a Embraer em comunicado.
Desde junho, a companhia brasileira vem se reestruturando. Quatro vice-presidentes e vários diretores foram substituídos nos últimos meses. Em julho, o clima já era de tensão entre os engenheiros com a possibilidade de desligamentos.
Antes mesmo da crise decorrente da pandemia, que paralisou o setor aéreo, a empresa já tinha quase metade de seus 5 mil engenheiros parcialmente ociosos, segundo apurou o Estadão. Com grandes projetos concluídos recentemente, como os desenvolvimentos do cargueiro militar C-390 Millenium e da família de aviões comerciais E2, a demanda pelo trabalho desses profissionais despencou internamente.
Fim da parceria
A empresa diz que a pandemia afetou em especial suas operações na aviação comercial – alvo do fracassado acordo de venda para a Boeing. No primeiro semestre de 2020, as entregas de aviões apresentaram queda de 75% em relação ao mesmo período do ano passado.
A Embraer admite que a situação se agravou com a duplicação de estruturas para atender à separação da aviação comercial, “em preparação à parceria não concretizada por iniciativa da Boeing, e pela falta de expectativa de recuperação do setor de transporte aéreo no curto e médio prazo”.
A Boeing anunciou que havia desistido de comprar parte da Embraer em abril, alegando que a brasileira não havia atendido as condições necessárias para a conclusão do negócio. A americana, porém, também enfrenta a maior crise de sua história por causa dos efeitos da covid-19 e em função da paralisação das operações com seu principal avião, o 737 MAX, após duas aeronaves do modelo caírem matando centenas de pessoas.
O fim do acordo colocou a Embraer em situação ainda mais delicada durante a pandemia. Isso porque, apenas no ano passado, a brasileira gastou R$ 485,5 milhões para separar a unidade de negócios que iria para a Boeing.
Greve
Ontem, após ser informado das demissões, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José do Rio Preto organizou uma assembleia diante da sede da Embraer, e os funcionários decidiram entrar em greve.
Anteriormente, empregados haviam denunciado, de forma anônima, ao Ministério Público do Trabalho supostos casos de pressão para aderirem aos planos de demissão voluntária (PDV). A procuradoria deve analisar o caso.
Em nota, a Embraer afirmou que “repudia qualquer tipo de atitude que desrespeite as pessoas” e que a “comunicação do PDV foi feita com transparência e em linha com o Código de Ética e Conduta da empresa”.
Sobre a greve dos trabalhadores, informou que as operações continuam normalmente e que deverá responder hoje à proposta apresentada pelo sindicato – que pede cancelamento das demissões, estabilidade no emprego e criação de um teto salarial de R$ 50 mil para executivos da empresa.
A Embraer informou, porém, que os desligamentos anunciados já foram efetivados.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Luciana Dyniewicz e Andre Vieira
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