Os juros fecharam em baixa, influenciados pela queda do dólar e leitura positiva do envio da reforma administrativa ao Congresso. As taxas longas caíram um pouco mais que as outras, com a curva dando sequência a movimento de desinclinação gradual visto nos últimos dias. O destaque da agenda, o crescimento da produção industrial perto do teto das estimativas, fez pressão pontual na abertura, sendo absorvido posteriormente e não alterou o quadro de apostas para a Selic nos próximos meses. A quinta-feira teve ainda mais um megaleilão do Tesouro Nacional, que vendeu quase 31 milhões de títulos prefixados, sendo a maior operação em termos de risco (DV01) desde 2016.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 caiu de 2,833% para 2,79% e a do DI para janeiro de 2023, de 4,014% para 3,96%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 5,76%, de 5,824% ontem, e a do DI para janeiro de 2027 recuou de 6,793% para 6,72%.
O DI mais líquido foi o janeiro de 2024, que fechou com taxa de 5,02%, de 5,064% ontem, e cerca de 360 mil contratos, mais do que o dobro da média diária de 160 mil dos últimos 30 dias. A liquidez farta neste vértice hoje não é por acaso, pois coincide com o vencimento de LTN (1/1/2024) mais ofertado pelo Tesouro no leilão, com 15 milhões de títulos. Outros 12 milhões foram vendidos para 1/10/2021 e mais 3,5 milhões para 1/10/2022, totalizando 30,5 milhões. Nas NTN-F, a oferta era de 450 mil, mas foram vendidas 300 mil. Em termos de risco, o DV01 somou R$ 6,03 bilhões nos últimos quatro anos, segundo a Renascença DTVM.
Mesmo grande, o leilão não foi empecilho para a queda das taxas nesta quinta-feira, graças em boa medida ao dólar, que à tarde chegou a cair a até R$ 5,2735, puxando as mínimas do DI na reta final da sessão regular. Além da correlação natural entre os dois ativos, o dólar em níveis mais baixos representa alívio para a inflação dos IGPs, que já começava a dar sinais de contágio para os IPCs. “O real indo bem melhora as expectativas de inflação e isso ajuda a curva”, afirmou o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. A moeda à vista fechou cotada em R$ 5,2960.
Quanto à reforma administrativa, a repercussão é positiva mais pela sinalização do que por apostas em efeitos práticos de curto prazo. “A reforma não traz benefícios para os próximos meses e ainda há muita água para passar debaixo da ponte”, disse Perfeito. A proposta valerá só para futuros servidores e acaba com a estabilidade de boa parte do funcionalismo público, um ponto que já está gerando tensão com sindicatos das categorias, cujo lobby no Congresso é muito forte.
Por Denise Abarca
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