Compartilhada por deputados de oposição ao governo, a hashtag #600PELOBRASIL chegou ao primeiro lugar dos trending topics do Twitter na manhã desta terça-feira, 1º de setembro. A movimentação pede a prorrogação do auxílio emergencial com o valor original de R$ 600, ao mesmo tempo em que critica a decisão do presidente da República, Jair Bolsonaro, que estendeu a medida por mais quatro meses sob o valor de R$ 300, metade dos repasses anteriores.
A maior parte das postagens repercutindo a hashtag vieram de perfis com indícios de terem sido automatizados, os chamados “bots”, o que pode ter ajudado a oposição a alavancar o assunto na rede.
Segundo o pesquisador associado ao Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), Marco Konopacki, entre as características observadas em perfis possivelmente não autênticos estão a frequência muito baixa de postagens, pouquíssimos seguidores (em torno de 10 ou menos) e o perfil das publicações, a maioria retuítes – no caso do Twitter – ou mensagens padronizadas que se repetem entre diversos usuários.
De acordo com o pesquisador, é comum ainda que esses perfis tenham sido criados há pouquíssimo tempo, e que tenham os usuários – o “@” cadastrado – com um primeiro nome próprio e uma sucessão de números a frente. Todas essas características são observadas nas movimentações desta terça pela manutenção do auxílio emergencial à R$ 600.
Konopacki foi um dos criadores da plataforma Pega Bot, do ITS Rio, que calcula a probabilidade, em coeficiente porcentual, de um perfil ser automatizado, levando em conta esses indicativos.
Para ele, nenhum dos indícios pode, sozinho, confirmar se um perfil é um bot pré-programado, mas o conjunto de características elencadas pode indicar que uma hashtag, como a #600PELOBRASIL, foi impulsionada por uma rede de desinformação.
Máquina bolsonarista
Essa prática, mais conhecida entre as redes bolsonaristas, não é novidade para outros espectros políticos, diz Konopacki. Para ele, o que diferencia a ação digital em defesa de Bolsonaro é a estrutura construída pelos atores ligados ao presidente. “A máquina bolsonarista de desinformação é mais profissional, robusta, tem mais recursos, mas não é a única atuando na rede em defesa de interesses próprios. Percebemos desde 2018, e até antes das eleições presidenciais, que existem outros grupos em espectros diferentes da política que também procuram e desenvolveram essas técnicas para impulsionar certos assuntos na esfera digital”, afirma.
Konopacki argumenta que esse tipo de prática online tem se tornado cada vez mais comum por ser um meio relativamente barato de atores políticos atingirem uma grande quantidade de pessoas.
A plataforma bolsonarista, diz ele, abriu os olhos de opositores, que agora também querem contar com redes próprias para não ficar em “desvantagem” no debate público.
O pesquisador diz, porém, que esse é um caminho perigoso e muito nocivo à discussão de ideias nas redes.
“Acho um erro completo outros setores do espectro político quererem ter sua própria máquina de desinformação”, diz Konopacki, que completa: “Ao invés de ajudar e equilibrar o jogo político, na verdade estão jogando cada vez mais lixo pra dentro dessa esfera pública digital e contaminando cada vez mais o debate público.”
Por Gabriel Caldeira
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