De candidato nanico a 2014 até a prisão pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira, 28, o pastor Everaldo Dias Pereira, de 64 anos, ficou marcado por episódios caricatos na política. Entre os momentos públicos de visibilidade, está o batismo do presidente Jair Bolsonaro no Rio Jordão, em Israel, em maio de 2016. Católico, o então deputado federal teve naquele ato um gesto simbólico de aceno aos evangélicos, hoje parte importante do seu eleitorado fortemente conservador.
Dois anos depois, Pastor Everaldo, como é conhecido, tornou-se um poderoso nos bastidores da política do Rio. Era presidente nacional do PSC, partido do governador afastado Wilson Witzel, e ficou conhecido como o homem que mandava em tudo – ou pelo menos, muito – no Executivo fluminense.
Conquistou esse posto com gestos de habilidade. Um deles foi inflar as pretensões do governador de concorrer à Presidência da República, logo no início de um governo que se anunciava difícil. Era visto com frequência no Palácio Guanabara, sede do governo fluminense, embora não tivesse cargo público.
Além da Secretaria de Saúde, foco da investigação sobre desvios durante a pandemia, o pastor da Assembleia de Deus comandava a Cedae, empresa pública de água e esgoto. Nesse campo, protagonizava uma disputa com o então secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, um aliado de Mário Peixoto, fornecedor de serviços terceirizados, preso na Operação Favorito, por corrupção. Peixoto nega ter cometido qualquer crime.
Quando concorreu à Presidência – ficou em quinto, com 0,75% dos votos -, Everaldo virou chacota ao atuar, em debates, como uma espécie de linha auxiliar do então candidato tucano, Aécio Neves. Fazia perguntas brandas como “Qual é a sua opinião sobre a Previdência no Brasil?”. Isso lhe rendeu a acusação, feita pela esquerda, de ser “boca de aluguel” do tucano. Depois, em 2017, um delator da Odebrecht afirmou que a empresa teria pagado R$ 6 milhões para o pastor ajudar Aécio.
Nascido dentro de um templo da Assembleia de Deus no Rio, Everaldo foi o primeiro candidato a presidente a usar o nome de “Pastor” na urna. Em 2018, tentou também uma cadeira no Senado. Mas, assim como na disputa de 2014, não teve sucesso.
No Rio, a influência de Everaldo não vem da eleição de Witzel, no recente ano de 2018. Começou nos fim dos anos 1990, no governo de Anthony Garotinho (1999-2002), eleito pelo PDT. Como subsecretário da Casa Civil, Everaldo coordenou o programa Cheque Cidadão, que distribuía vales-compra a famílias carentes. A distribuição se dava por meio de templos religiosos, o que gerou críticas. O pastor rebatia, dizendo que todas as religiões participavam da distribuição.
Na época, Everaldo era aliado da esquerda que estava no poder no Rio. Era próximo de Garotinho e da vice-governadora, a petista Benedita da Silva. Conseguiu que seu irmão, Edmilson Dias Pereira, tivesse legenda e fosse eleito vereador pelo PT. Mais recentemente, assumiu um discurso oposto, com apoio a privatizações. Ressurgiu no PSC após alguns anos sem nenhum destaque.
Recentemente, Everaldo foi acusado de mandar na Secretaria de Saúde. Na delação premiada firmada com a Procuradoria-Geral de Justiça, o ex-secretário Edmar Santos disse que foi ameaçado no período em que esteve preso no Batalhão Especial Prisional de Niterói, antes de acertar o acordo com a PGR e deixar a cadeia. Segundo ele, um homem que se apresentou como “tenente Cabana”, que seria ligado ao presidente do PSC, o abordou para recomendar uma troca de advogado, a fim de que ele não fosse abandonado pelo “grupo”. Santos interpretou o aviso como ameaça para que ficasse calado.
Com a prisão do Pastor Everaldo nesta sexta, o PSC informou que o ex-senador e ex-deputado Marcondes Gadelha, vice-presidente nacional da sigla, assume provisoriamente a presidência do partido.
Em nota, Pastor Everaldo afirmou que “sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera sua confiança na Justiça”.
Por Caio Sartori e Wilson Tosta
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