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Juros longos fecham em forte alta com temor sobre saída de Guedes e risco fiscal

O aumento da pressão sobre a área econômica, após o presidente Jair Bolsonaro anunciar no fim da manhã que não vai mandar ao Congresso o programa Renda Brasil da forma como foi elaborado, empinou ainda mais a curva de juros, com as taxas longas subindo mais de 30 pontos-base nas máximas à tarde. Mais do que a piora do risco fiscal, o mercado voltou a colocar nos preços a possibilidade do ministro Paulo Guedes deixar o governo, o que representaria a derrota da agenda liberal e reformista vista como essencial para colocar o País nos trilhos.

As taxas curtas também subiram e a precificação de corte da Selic não só continuou enterrada como a curva passou a projetar chance de alta de 0,25 ponto porcentual na taxa básica nas reuniões do Copom que restam em 2020, já a partir de setembro.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) mais líquido nesta quarta-feira foi o janeiro de 2023, com 565 mil contratos, quase o dobro da média diária dos últimos 30 dias (286,5 mil). A taxa voltou à casa dos 4,0%, para 4,07%, de 3,933% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 5,96%, ante 5,754%, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 6,763% para 6,97%. Nos curtos, o DI para janeiro de 2022 fechou em 2,83% (2,753% no ajuste anterior).

O tom já era de cautela pela manhã com informações sobre divergências entre a área econômica e o Planalto sobre o Renda Brasil, que estariam segurando o lançamento do programa, mas o mercado estressou de vez no começo da tarde, após Bolsonaro dizer que havia suspendido o projeto. O presidente discorda do fim ou redução de programas sociais, como o abono salarial, como forma de financiar o benefício, mas vistos como necessários pela equipe econômica para não comprometer o teto de gastos.

No período da tarde, o Ministério da Economia negou que haveria convocação da imprensa para pedido de demissão do ministro Paulo Guedes. Segundo a assessoria de imprensa da pasta, Guedes “continua despachando normalmente”.

Para o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, o mercado procurou “uma boa desculpa para realizar”. “Hoje o presidente ajudou neste processo ao comunicar de maneira desencontrada sua visão contrária ao desenho atual do Renda Brasil. O mercado sentiu o cheiro de piora das relações entre o Planalto e o Ministério da Economia e entrou no modo ‘vendido’ em Brasil”, disse.

De todo modo, nem o quadro de apostas para a Selic passou ileso ao aumento das tensões. Segundo o economista-chefe do Haitong Banco de Investimentos, Flávio Serrano, a curva projetava nesta tarde 15% de chance de alta de 0,25 ponto para a Selic em setembro; 15% em outubro; e 35% de probabilidade em dezembro, num total de 17 pontos-base até o fim do ano. É difícil imaginar que o Copom comece a apertar a Selic tão cedo, num contexto de expectativas de inflação e de inflação corrente abaixo das metas e grande abertura do hiato do produto. “O risco de aperto monetário depende da política, porque tudo agora gira em torno do fiscal”, disse Vieira.

Por Denise Abarca

Estadão Conteúdo

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