A proporção máxima de estudantes que poderiam voltar às aulas presenciais no Estado de São Paulo com nenhuma infecção ou baixo risco de contágio pelo novo coronavírus está entre 6,86% e 20,27%, considerando o cumprimento dos protocolos sanitários. No cenário em que a minoria segue as recomendações, seria preciso ter de 3,73% a 11% da quantidade de alunos no colégio para uma reabertura com maior segurança. Isso é o que calculam os pesquisadores dos grupos Ação Covid-19 e Rede Escola Pública e Universidade, que lançaram esta semana uma ferramenta pública de simulação sobre riscos da reabertura das escolas.
O plano de retomada gradual de aulas no Estado prevê o retorno de 35% dos estudantes em uma primeira etapa. Seguindo esse planejamento, o simulador de dispersão do vírus mostra que, mesmo que alunos, professores e funcionários respeitem as medidas de distanciamento social e de higiene, de 11% a 46% dos indivíduos estariam infectados após 60 dias letivos, a depender das características das escolas. Inicialmente, o governo cogitou o retorno com a parcela de 20% dos alunos na primeira fase, mas a ideia foi abandonada depois.
Colégio Porto Seguro
No Estado de São Paulo, o governador adotou o dia 7 de outubro como data oficial para o retorno das aulas presenciais nas redes pública e privada de ensino. Porém, deixou como opcional a volta para atividades de reforço em 8 de setembro. Com isso, o retorno vai depender da autorização das prefeituras e do planejamento de cada escola. O prefeito Bruno Covas (PSDB), por exemplo, já descartou a retomada no mês que vem. O governo estadual e a Prefeitura têm afirmado que vão seguir as recomendações médicas para liberar o retorno das classes e dizem que vão investir em medidas de higiene e distanciamento para minimizar os riscos.
Um fator importante nas análises para dispersão do vírus é a densidade de pessoas nas instituições de ensino, ou seja, o número de estudantes e profissionais em determinada área. Segundo os pesquisadores, esse critério está relacionado à frequência de contato entre as pessoas e, consequentemente, à maior ou menor probabilidade de transmissão do novo coronavírus.
Na nota técnica que serve para compreensão do simulador, a equipe destaca que o material foi produzido “com o objetivo de contribuir nos debates sobre a proposta de retorno a atividades escolares presenciais no Estado de São Paulo e, sobretudo, de apoiar escolas e comunidades escolares na compreensão dos fatores que influenciam (ou até inviabilizam) a reabertura proposta pelo governo estadual”. Sendo assim, trata-se mais de um artifício de análise, não de previsão do que realmente vai acontecer no retorno às aulas presenciais.
As simulações foram realizadas para quatro cenários distintos, com exemplos extremos de alta e baixa densidade em escolas estaduais hipotéticas na cidade de São Paulo. Uma seria em Pinheiros (zona oeste), com 400 estudantes e 9 mil metros quadrados de área (considerada dispersa), e a outra ficaria na Brasilândia (zona norte), com 700 alunos e 6,5 mil metros quadrados (comprimida). Para todas, foi levado em conta o total de 35% dos alunos proposto na fase 1 de reabertura, além de professores e demais profissionais.
De acordo com a calibragem do simulador, foi estabelecido que a chance de transmissão do vírus em uma escola pode ser de 39% e que ocorre uma nova infecção a cada dez dias na unidade escolar. Foram considerados três momentos de maior interação pessoal: horários de entrada, intervalo e saída.
Cenários
No primeiro cenário, o melhor possível, uma escola mais comprimida inicia as aulas com 307 pessoas, uma delas já infectada pelo coronavírus, e o cálculo considera que 70% delas não circulam pelo ambiente. Mesmo que a maioria respeite as medidas de distanciamento social e higiene, 46,35% delas seriam contaminadas e 0,30% morreriam após 60 dias letivos. Na segunda hipótese, em uma escola dispersa que começa com 110 pessoas, uma delas infectada, o mesmo período terminaria com 10,76% delas infectadas e 0,03% de óbitos.
Nos dois cenários seguintes, foi investigado qual seria o número máximo ideal de pessoas dentro da escola para que houvesse baixa ou nenhuma infecção, ou seja, apenas dois indivíduos infectados ao longo dos 60 dias. Considerando apenas os estudantes, seria preciso 6,86% deles na escola mais comprimida e 20,27% na mais dispersa para uma reabertura mais segura.
“Na escola mais adensada (comprimida), o porcentual encontrado torna inviável, na prática, sua reabertura em condições de maior segurança. Quanto à escola dispersa, hipoteticamente situada em Pinheiros, poderia restar a hipótese de reabertura em esquema de revezamento entre os estudantes, com atendimento de grupos de cerca de 20% dos estudantes a cada dia. Para que todos fossem atendidos, a frequência estaria, assim, limitada ao máximo de uma vez a cada cinco dias, isso na mais favorável das hipóteses”, dizem os pesquisadores. Porém, eles observam que reabrir com essas restrições acentuaria as desigualdades sociais, principalmente para os estudantes e escolas em piores condições.
No último cenário, se a minoria das pessoas respeitasse as medidas de higiene e distanciamento, seria preciso ter 3,73% de estudantes na escola mais comprimida e 11% na mais dispersa. “Nesse cenário, para garantir uma reabertura mais segura das unidades escolares e atendimento, ainda que limitado, de todos os estudantes em esquema de revezamento, o resultado das simulações indica que estes deveriam frequentar as unidades escolares a cada nove dias (escolas dispersas) ou a cada 27 dias (escolas comprimidas), o que é uma clara inviabilidade prática para a retomada das atividades presenciais nas escolas”, apontam.
Por Ludimila Honorato
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