A intervenção do Banco Central, jogando US$ 550 milhões no mercado à vista na etapa vespertina dos negócios nesta quinta-feira, 20, aliada à perspectiva mais positiva sobre a manutenção pela Câmara dos Deputados do veto da Presidência da República, que barra o aumento do salário do funcionalismo público, deixou o dólar mais comportado em seu desempenho frente ao real até o encerramento da sessão. A moeda, que chegou a tocar R$ 5,6727, no ponto mais nervoso do dia, encerrou a R$ 5,5522, em alta de 0,40%.
Para Fernando Bergallo, CEO e fundador da FB Capital, dependendo da resposta da Câmara, é plausível pensar no dólar a R$ 6,00. “A cotação máxima do ano foi de R$ 5,90 em reação à fase mais aguda da pandemia. Agora, mesmo em um momento melhor, Nasdaq com recorde histórico, o Brasil não consegue surfar nele por conta das questões fiscais e domésticas”, avalia.
“São necessários 257 votos ou mais para que o veto ao reajuste dos servidores seja mantido. Efeito dessa medida do Senado é muito relevante do ponto de vista prático, ou seja, do rombo fiscal a ser gerado, quando da sinalização de uma falta de comprometimento do Senado com a agenda do ministro da economia em um momento que o Guedes está balançando”, disse ele, lembrando as baixas da equipe econômica.
Segundo Bergallo, a situação atual é “muito crítica” como poucas vezes se viu desde o início do governo Bolsonaro. “Já tivemos 38% de depreciação do câmbio neste ano. É muito. Nesse patamar, o câmbio é muito mais prejudicial do que eventualmente um ponto positivo. O câmbio oscilou 15 centavos entre máxima e mínima hoje. É uma amplitude muito grande”, diz. Se a Câmara mantiver o veto, avalia ele, o mercado tende a desmontar as posições defensivas e aí o dólar pode voltar mais para perto dos R$ 5,30 e R$ 5,40.
Hoje o BC fez dois leilões no montante total de US$ 1,140 bilhão à vista em duas etapas. Pela manhã, vendeu US$ 590 milhões com taxa de corte de R$ 5,6401 e três propostas foram aceitas. Já à tarde, foram US$ 550 milhões a uma taxa de R$ 5,5720, aceitando cinco propostas.
Na avaliação do estrategista-chefe da Infinity Asset, Otávio Aidar, o ambiente internacional já é difícil e o Brasil ainda volta em temas que já se imaginava superados. “O cenário internacional já vinha carregado pela ata da reunião do Fed, que sinalizou atividade mais fraca. Isso já leva as moedas emergentes a sofrer, mas aí vem essa questão do veto, que não se viu de onde saiu, e o real segue sofrendo mais que seus pares.”
Por Aline Bronzati e Simone Cavalcanti
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