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Boeing ainda tem obstáculos para liberar 737 Max após mais de um ano de suspensão

Desde março de 2019 proibido de voar após duas tragédias deixarem centenas de mortos, a aeronave modelo 737 Max, da Boeing, ainda terá muitos desafios pela frente para conseguir retomar os voos. Do lado da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a liberação só virá depois do sinal verde nos Estados Unidos, disse o superintendente de Aeronavegabilidade da agência, Roberto Honorato, em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Já especialistas destacaram que a operação comercial do modelo deve ficar para o ano que vem.

A agência brasileira está participando, desde abril de 2019, de um grupo seleto de reguladores em contato direto com a FAA (agência de aviação civil dos Estados Unidos) para avaliar a retomada do Max. A volta é uma passo importante para aéreas no mundo tudo, como é o caso da Gol, única a operar o modelo no Brasil. O Max compõe a estratégia de renovação de frota da brasileira e é decisivo para a retomada dos negócios internacionais, por se tratar de uma aeronave mais eficiente. A pandemia, entretanto, deixou o setor em compasso de espera.

De acordo com Honorato, a volta da operação do Max no Brasil está condicionada à liberação anterior nos Estados Unidos. “Nós não estamos vinculados à FAA, mas se não começou a operar lá, não faz sentido a aeronave voltar aqui”, disse. Ele explicou que a proximidade entre as agências tem a intenção de acelerar o processo de liberação no Brasil após o “ok” da FAA. A estimativa é que seja quase instantâneo, apesar de incertezas naturais sobre uma revisão que ainda não foi concluída.

A Anac ganhou mais espaço ainda na discussão diante do fato de ter sido a única reguladora a demandar treinamento adicional aos pilotos para o sistema de pilotagem MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System) dentro do processo de certificação do Max no Brasil.

As avaliações ainda não foram concluídas, mas imagens de satélite apontam semelhanças entre os dois acidentes, em outubro de 2018 (da Lion Air, na Indonésia) e em março de 2019 (Ethiopian Airlines, na Etiópia), que deixaram centenas de mortos. Uma das principais hipóteses é de falha no MCAS. Diante disso, a Boeing revê hoje todo o sistema de controle de voo da aeronave.

Na sexta-feira, a Anac divulgou que estuda proposta sobre a modificação de projeto de sistema de controle de voo das aeronaves modelo Boeing 737-800 MAX. Essa proposta trata-se de uma Diretriz de Aeronavegabilidade, divulgada pela autoridade de aviação civil norte-americana, no último dia 3 de agosto e enviada para as autoridades de aviação civil que trabalham na análise do projeto. O documento liberado pela FAA passa agora por uma espécie de consulta pública de 45 dias para depois se fechar a versão final.

De acordo com o sócio-fundador do Fenelon Advogados, Ricardo Fenelon Junior, o convite para que outras agências participem do processo foi importante. “O objetivo é exatamente passar uma mensagem única de que quando a FAA entender que o MAX está pronto para voltar a voar, há consenso entre as outras autoridades. Diferentemente do que aconteceu quando decidiram suspender os voos, em que alguns países tomaram a decisão antes dos Estados Unidos”, disse.

Fenelon, que foi diretor da Anac por quatro anos (2015 a 2019), destacou que é difícil tentar estimar quando o Max voltará a operar. A própria Boeing já divulgou diversos prazos, todos fracassados. “A expectativa hoje é que o processo de certificação da FAA seja concluído neste ano. E os voos retornem no final de 2020, mais provavelmente no início de 2021”, disse. A própria consulta publica, lembrou, era algo não previsto e que deve atrasar o calendário. Depois da certificação, ainda será preciso atualizar as aeronaves das operadoras e promover o treinamento dos pilotos.

Fenelon acrescentou que a pandemia de covid-19 ajudou a diminuir a pressão sobre a Boeing ao deixar a frota das empresas parada. “Por outro lado, nesse momento de redução de custo, seria muito importante para as companhias terem a opção de utilizar uma aeronave de última geração e mais econômica como o MAX”, explicou.

Em março, a Gol chegou a um acordo de compensação pela paralisação dos Boeing 737 MAX e de reestruturação da carteira de pedidos. No total, a empresa vai receber R$ 2,4 bilhões em dinheiro – sendo R$ 500 milhões já adiantados em abril. A empresa tem um total de sete unidades do Max hoje na frota. A brasileira fechou um acordo com a Boeing para cancelar 34 ordens de aeronaves que seriam entregues entre 2020 e 2023, reduzindo os pedidos firmes remanescentes para 95 unidades do modelo.

Procurada pela reportagem, a Boeing destacou que, embora ainda tenha muito trabalho pela frente, a avaliação mais recente da companhia é de que as aprovações regulatórias necessárias sejam obtidas a tempo de apoiar a retomada das entregas durante o quarto trimestre. “Naturalmente, o tempo real será determinado em última instância pelos reguladores globais”, ponderou a empresa. A liberação de entrega não necessariamente significa que a operação comercial estará liberada, uma vez que as operadoras podem apenas buscar a frota.

O voo comercial depende dos reguladores, segundo a Boeing, que não deu uma estimativa. Na teoria, caso Anac e FAA já tenham dado o sinal verde até lá e as companhias aéreas já tenham feito as mudanças e treinamento dos pilotos, a retomada já poderia acontecer.

Procurada, a Gol disse que acompanha o processo de perto e está confiante no retorno da aeronave ao serviço dentro do calendário da Boeing. Questionada sobre as compensações, a companhia disse que todos os pontos que envolviam o tema já foram divulgados e nenhum outro valor é esperado. Questionada sobre uma estimativa para retomada na operação, a Gol disse que, após a liberação das autoridades (FAA e ANAC), “estimamos que nosso primeiro 737 MAX decole em até 30 dias”. A empresa disse que trabalha para cumprir todos os requisitos técnicos e operacionais, incluindo treinamento dos pilotos.

Por Cristian Favaro

Estadão Conteúdo

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