O Ibovespa encontrou combustível para retomar a linha de 102 mil pontos nesta terça-feira, 18, após o desconforto do dia anterior com a possibilidade de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, estivesse a ponto de desembarcar do governo, em meio à disputa com os defensores da ampliação de gastos públicos.
Após a noite do “fico”, com a renovação pública de votos de confiança entre Guedes e o presidente Jair Bolsonaro, o principal índice da B3 fechou nesta terça-feira em alta de 2,48%, aos 102.065,35, mais do que compensando a correção do dia anterior (-1,73%), quando encerrou aos 99.595,41 pontos, no menor nível desde 13 de julho. Na semana, acumula ganho de 0,70%, cedendo 0,82% no mês e 11,74% no ano. O giro de hoje totalizou R$ 29,0 bilhões, com mínima a 99.597,01, na abertura, e máxima a 102.247,30 pontos, na parte final da sessão.
“So far, so good (Até aqui, tudo bem), mas será preciso monitorar esta situação, semana a semana. O Guedes tem também um papel pedagógico, de contenção fiscal, e disputas sobre gastos são naturais em qualquer governo, em qualquer lugar. O que não pode ocorrer é permitir que se caia naquela definição de insanidade: imaginar que, ao se fazer a mesma coisa, é possível obter resultado diferente”, diz Marcelo Audi, sócio-gestor da Cardinal Partners, referindo-se a erros da história recente do País, em que soluções de curto prazo acabaram comprometendo a perspectiva econômica em horizonte mais amplo.
“Daqui ao fim do ano, há um grande desafio, de fazer a volta à normalidade, uma hora da verdade em que o Executivo e o Congresso precisarão mostrar ações concretas. Não há outro caminho que não seja o da normalização da situação fiscal”, acrescenta. Audi observa que a disputa interna no governo, entre liberais e defensores da ampliação de gastos públicos, não é nova, esteve evidente na reunião de 22 de abril, cujo vídeo foi divulgado um mês depois. Com a adoção de medidas emergenciais em apoio à população mais vulnerável, que teve reflexos positivos sobre a popularidade do presidente, a questão agora é evitar a tentação política.
“A partir de setembro, há três caminhos possíveis: suspensão do auxílio, o que é improvável; extensão até o fim do ano, com o mesmo valor de R$ 600, o que seria temerário; ou extensão com redução do valor, o que seria preferível do ponto de vista fiscal, especialmente se feita a partir de remanejamentos, como do Fundeb, com pouco ou nenhum efeito expansionista”, diz o gestor da Cardinal.
Com o Ibovespa tendo embicado ontem para baixo dos seis dígitos pela primeira vez desde 15 de julho (em 14 do mês passado, tocou mínima a 98.288,81, no intradia), o índice da B3 tem mostrado, desde a virada para agosto, um padrão mais inclinado a ajustes negativos, após quatro meses de recuperação, iniciada com ganho de 10,25% em abril e sustentada entre maio e julho com avanços mensais acima de 8%. Mesmo antes do agravamento da perspectiva fiscal, o Ibovespa vinha mantendo lateralização, pouco disposto a testar o pico recente, de 29 de julho, quando foi aos 105.703,62 pontos na máxima daquela sessão.
Para Fernando Góes, analista gráfico da Clear Corretora, o Ibovespa agora tende a “enfrentar uma seção de suporte muito forte, que começa nos 99 mil pontos e vai até os 97 mil, mais ou menos”. “Se (o índice) segurar aqui, fica ainda com expectativa de tendência de alta, porém dá para ver claramente que o mercado perdeu velocidade e está mais cauteloso”, acrescenta.
Nesta terça-feira, a divulgação de balanço trimestral colocou Magazine Luiza (+9,61%) na ponta do Ibovespa, seguida por BTG (+8,34%), Gerdau PN (+8,16%) e Via Varejo (+8,15%). No lado oposto, Taesa (-0,97%), WEG (-0,40%), JBS (-0,13%) e Multiplan (-0,05%) foram as únicas ações do Ibovespa a fechar o dia em terreno negativo. Entre as blue chips, Petrobras PN subiu 1,86%, a ON, 1,50%, e Vale ON, 1,33%. As ações de siderúrgicas estiveram entre as maiores ganhadoras do dia: além de Gerdau PN, ganhos expressivos foram observados também em Usiminas (+6,78%), CSN (+6,31%) e Gerdau Metalúrgica (+7,06%). Entre os bancos, o dia também foi positivo, embora moderadamente, com Bradesco ON em alta de 1,41% e BB ON, de 1,36%.
Por Luís Eduardo Leal
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