Chamado a atuar para mitigar o efeito da crise causada pela pandemia de covid-19 sobre as empresas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou no segundo trimestre a maior expansão de crédito desde 2009, quando aportes bilionários do Tesouro Nacional deram musculatura para a instituição de fomento atuar na recuperação da crise financeira internacional agravada em setembro de 2008.
Os desembolsos do BNDES para financiamentos ficou em R$ 17,658 bilhões, alta de 61,6% ante igual período de 2019, já descontado o efeito da inflação. No primeiro trimestre, a mesma base de comparação apontou um tombo de 44,3% nos valores liberados no primeiro trimestre, conforme dados divulgados nesta sexta-feira, 14, pelo banco de fomento, junto dos resultados financeiros.
Embora tenha registrado altas pontuais no quarto trimestre de 2018 e no primeiro trimestre de 2019, a trajetória dos desembolsos do BNDES tem sido de queda desde 2014. Ano passado, o banco liberou R$ 55,314 bilhões, o menor valor desde 1996, já descontada a inflação. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), os desembolsos ficaram em 0,76%, menor nível da série histórica do BNDES, iniciada em 1995.
Na comparação dos desembolsos trimestrais com iguais períodos de anos anteriores, sempre corrigindo pela inflação, a alta de 61,6% foi a maior desde o terceiro trimestre de 2009. Naquele período, quando a expansão do BNDES turbinava a rápida recuperação da economia após a recessão do fim de 2008 ao início de 2009, a alta em relação ao terceiro trimestre de 2008 foi de 133,8%. Os desembolsos do BNDES fechariam 2009 com salto de 39,8%, para R$ 260 bilhões, pavimentando o caminho para os R$ 296 bilhões liberados em 2010, recorde na história do banco de fomento.
Ao apresentar os resultados financeiros do segundo trimestre, a diretora financeira do BNDES, Bianca Nasser, associou o crescimento nos desembolsos às linhas de crédito emergenciais. O banco informou que as contratações de novos empréstimos também subiram fortemente, somando R$ 20,7 bilhões no segundo trimestre, alta de 129% ante o mesmo período de 2019, sem descontar a inflação.
Segundo Bianca, não só os desembolsos, mas os valores de aprovações e consultas a novos empréstimos cresceram no acumulado em 12 meses até junho. “A partir do início deste ano, essa curva começou a apresentar crescimento em todas essas rubricas, tanto consultas, quanto aprovações e desembolsos”, afirmou a diretora.
A executiva chamou atenção, porém, para a composição dessas contratações, priorizando o financiamento a projetos de infraestrutura e para empresas de menor porte, focos do novo posicionamento do BNDES, menor e com menos subsídios. Os dados divulgados junto das demonstrações de resultados mostram R$ 11,2 bilhões em novos financiamentos contratados para a infraestrutura, 88% acima de igual período de 2019, de novo sem descontar a inflação.
A alta nos desembolsos no segundo trimestre já havia aparecido nos dados do Banco Central (BC). No segundo trimestre, o banco de fomento concedeu R$ 17,2 bilhões de crédito a empresas de todos os portes, como mostrou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) há uma semana. O montante é 247,8% maior que o verificado no primeiro trimestre do ano, quando o surto de covid-19 ainda estava no início. Nas linhas de capital de giro, o avanço foi de 4.040,5%.
Nos dados do BC, a trajetória também era de queda, até a alta do segundo trimestre. No fim de 2015, ainda no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), o saldo das operações de crédito do BNDES somava R$ 633,4 bilhões. No encerramento de 2019, o valor ficou em R$ 382,4 bilhões.
Por Vinicius Neder
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