Pela quantidade de bares e seu tradicional movimento boêmio, a rua Aspicuelta, na Vila Madalena, é o mais próximo que São Paulo teria da carioca Dias Ferreira, no Leblon. Por isso, todas as atenções da primeira noite em que a happy hour foi autorizada a se prolongar até as 22h se concentraram nesse pedaço da cidade. A expectativa indisfarçável era de que ali se repetissem as imagens lamentáveis da aglomeração etílica no Rio de Janeiro.
Não foi o que aconteceu. A verdade é que os endereços da Aspicuelta tiveram uma noite tranquila. Na maioria dos bares, a capacidade máxima permitida ficou longe de ser atingida (e alguns ficaram literalmente vazios até as 19h). Os clientes que decidiram viver uma happy hour mais estendida não tiveram dificuldade em manter o distanciamento e seguir as medidas de higiene.
Algumas casas da rua, como Posto 6, Zé da Praia, São Cristóvão, Navarro e Boteco Todos os Santos sequer abriram as portas. O máximo de movimento nas calçadas era de pessoas saindo para fumar. Mas nada que criasse um aglomeração que colocasse em risco o distanciamento social.
Em uma mesa do bar Pasquim, a empresária Mariana Tonini, de 29 anos, tomava o seu primeiro Aperol depois de meses. “Eu cheguei às 16h30. Estava com saudade e necessidade de interagir com as pessoas. Estou me sentindo segura nesse ambiente. É possível ter uma diversão responsável”, contou.
Perto do Pasquim, um grupo de engenheiros, com mais de 35 anos de amizade, se reuniram em uma mesa do Bar Léo para brindar o reencontro. “Faz tempo que a gente estava programando isso. Não queríamos deixar passar mais nem um dia”, falou Pedro Luiz Zan, 60 anos.
A flexibilização noturna atraiu turistas para a Vila Madalena. Os amigos de Belo Horizonte chegaram nesta quinta-feira a São Paulo e comemoraram a coincidência. “Não existe turismo sem bar. Mineiro sofre muito sem bar. Já não temos praia, não é?”, brincou Ruth Lima, de 36 anos.
De Limeira, no interior de São Paulo, as arquitetas Natália Campos, de 25 anos, e Ana Paula Nóbrega, de 29, atrasaram a volta para a cidade com a intenção de tomar um chope, ver gente e respirar. “Em Limeira, os bares ainda não podem abrir. A gente entende a situação grave, mas é importante que também tenhamos uma vida normal outra vez”, disse Natália.
João Paulo Dib, sócio proprietário do bar Armazém, lamentava o movimento baixo, mas dizia já ser esperado. “Para fechar às 22h, você encerra a cozinha quase uma hora antes. Então, a pessoa que estaria aqui umas 20h prefere nem sair de casa”, apontou. Para ele, e outros proprietários, a possibilidade de abrir até às 22h foi uma boa notícia, mas não resolve a crise no setor. As principais reivindicações são um período maior de funcionamento e a possibilidade de colocar mesas na calçada.
Perto dali, na rua Delfina, Cézar Santos, o popular Cezinha, já explicava aos clientes sobre a impossibilidade de “tomar uma cervejinha na calçada”. Muitos ali não sabiam que, apesar do horário estendido, beber na rua continuava proibido. “A gente fica até meio sem jeito de falar com o cliente, mas é necessário e eu faço isso”, disse Cezinha.
A expectativa dos bares é de que a sexta e o sábado sejam agitados. Existe também a expectativa de que sábado à tarde, durante a final do Campeonato Paulista de Futebol, alguns clientes decidam assistir a partida entre Palmeiras e Corinthians em um bar com telão. A conferir.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Gilberto Amendola
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